Conheça jovens de Sergipe que empreendem pelas redes sociais
Sem lojas físicas ou virtuais, nicho de comércio foca no atendimento personalizado Economia | Por Monica Pinto 29/06/2021 13h45 |A pandemia de covid-19 ensejou que gente com alguma capacidade financeira investisse em um negócio próprio, diante do cenário de queda do emprego formal, situação já desafiadora mesmo antes da crise sanitária. O comércio online, impulsionado pela recomendação de se manter o distanciamento social, ganhou força e visibilidade. Levantamento da Neotrust, consultoria que monitora o chamado varejo digital, revelou que no Brasil esse setor faturou R$ 35,2 bilhões no primeiro trimestre de 2021, registrando um aumento de 72,2% em comparação ao mesmo período de 2020.
O CEO da Neotrust, Fabrício Dantas, declarou à revista Exame que há um movimento global de crescimento do e-commerce, em que se inclui o Brasil. “Desde o começo da pandemia, a internet tem se tornado uma ferramenta importantíssima para as compras, um hábito que deve continuar mesmo após a volta das atividades presenciais", disse ele na reportagem publicada em abril passado.
No entanto, para além de lojas online, próprias ou inseridas no campo do marketplace, aparentemente cresce no país um tipo de comércio cuja dimensão ainda não foi mensurada tecnicamente: o circunscrito às redes sociais, espaços onde acontecem a divulgação de produtos, a venda e as tratativas de pagamento e posterior entrega. Isso viabiliza um atendimento personalizado aos clientes que, se satisfeitos com o negócio, contribuem para aumentar a confiança de outros potenciais interessados, por intermédio de avaliações positivas, reeditando o antigo “boca-a-boca”.
É nesse universo que operam os irmãos sergipanos Júlia, 23 anos, e Daniel Leite, 18, administradores da saboaria artesanal "Analu, Cheiros em Arte". Ambos embarcaram na proposta em paralelo a uma rotina de estudos - ela, formanda em Direito; ele, concluindo o Ensino Médio. Júlia Leite resolveu pesquisar produtos naturais no segmento, para consumo próprio, decidida a não mais utilizar os industrializados, e percebeu que havia ali uma oportunidade de negócios. “Não encontrei o que eu procurava no comércio local; foi assim que surgiu a ideia de estudar todo o processo e criar a Analu, Cheiros em Arte, atendendo assim ao mercado sergipano, para um mundo melhor, com menos lixo, sem plástico e com muito autocuidado”, disse ela ao F5News. O viés ecológico se afirma como decisivo para os jovens empreendedores, enaltecido em divulgações nas redes sociais, onde informam que os produtos são 100% naturais e biodegradáveis, não contém conservantes e fragrâncias sintéticas, nem passam por qualquer teste em animais.“Tudo é feito exclusivamente pelas redes sociais. Nós fazemos as postagens via Instagram. O meu número está disponível na página, então os clientes entram em contato via WhatsApp ou pelo próprio Instagram. Toda a negociação é feita de maneira virtual, a tecnologia é uma grande aliada, o PIX virou o nosso meio de pagamento principal, mas também aceitamos outras formas de pagamento, mas toda online”, disse Júlia ao F5News. “Os produtos, quando prontos, ficam disponíveis para retirada, mas alguns clientes preferem que seja enviado por motoboy. Tudo é acertado e personalizado de acordo com a necessidade e conforto do cliente”, completa.
Segundo Júlia Leite, nesse caminho houve “dois desafios enormes”, a começar da escassez de matéria prima natural que suprisse o padrão desejado. “Precisamos fazer e refazer diversos testes, procurar em diversos lugares para só então chegar no produto final que idealizamos com a qualidade que temos hoje”, disse.A segunda questão se refere à embalagem, item sobre o qual a dupla de empreendedores deliberou excluir o plástico, numa busca constante por alternativas mais sustentáveis. “Meu irmão e parceiro Daniel Leite embarcou nessa proposta comigo e agora, por exemplo, estamos desenvolvendo juntos opções de embalagens com caixas de leite recicladas”, relatou Júlia ao F5News.
A jornada tem sido “extremamente gratificante”, avalia ela, ainda que faça parte da rotina dos irmãos lidar com desafios sucessivos na administração do negócio. “Eram muitas incertezas sobre o futuro, a pandemia virou a vida de todos nós de ponta cabeça”, diz Júlia, para quem é assustador começar uma experiência nova num momento de tanta instabilidade. “Mas a gente acredita muito na saboaria artesanal; antes de empreendedores, somos os maiores clientes e fãs da Analu, foi a melhor coisa que fizemos”, afirma ainda.
A saboaria, toda artesanal, inclui um pequeno laboratório montado na casa da empreendedora, espaço reservado e adaptado exclusivamente para a produção. “É até engraçado porque, quando eu passo da fronteira ‘casa’ e entro no território da Analu, vira uma chave na minha cabecinha e parece que estou em outro lugar, o ambiente é de trabalho”, comenta Júlia Leite.
Um conjunto de circunstâncias levou a psicóloga Paula Safadi, de 28 anos, a empreender. Ela trabalhava em um dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) da Prefeitura de Aracaju e em seu consultório, mas se afastou de ambos ao ter sua filha, Aimê, em dezembro de 2019. Poucos meses depois, portanto, eclodiu a pandemia de covid-19, o que resultou na extensão de seu resguardo até julho de 2020, quando voltou ao CRAS em tempo integral.Passados apenas dois meses do retorno, Paula resolveu se dedicar exclusivamente à nenê, mas a decisão teve seus preços. “Depois que me tornei mãe tudo mudou, e durante muito tempo do pós-parto não me reconhecia, passei muito tempo pensando em como iria me encontrar novamente, o que poderia fazer para ter uma renda e poder ficar em casa para cuidar da minha filha”, contou ela ao F5News.
Em dezembro de 2020, outra circunstância se apresentou: o marido de Paula, Marcelo, recebeu uma oferta de trabalho temporário, pelo período de quatro meses, próximo a sua cidade natal, Castro, no Paraná, e o casal se transferiu para lá. “Durante essa viagem, minha busca por empreender algo aumentou, me trazendo muitas reflexões, até que surgiu a ideia de começar a vender Jóias em Prata 925”, disse ao portal.
Assim como ocorreu com Júlia, Paula Safadi passou a vender um produto que comprava eventualmente. “Sou consumidora de jóias em prata há alguns anos, pois tenho alergia e não posso usar bijuterias. A prata foi uma ótima escolha, pois é uma jóia com preço acessível”, analisa. A pandemia e a consequente redução de renda da maioria das pessoas foram os cenários em que ela percebeu a necessidade de filtrar as escolhas da potencial clientela, selecionando peças “onde a beleza, qualidade e o preço justo estão unidos”.
Desse movimento nasceu a marca Aimê, nome da filha de Paula Safadi e cujo significado, “A amada”, serviu de inspiração para a psicóloga investir ainda em outro negócio: o das peças em crochê confeccionadas por ela. Apesar de utilizar as redes sociais para divulgar todos os produtos, fechar as vendas e combinar pagamentos e entregas, a empreendedora em paralelo lança mão de um tipo de comércio muito em voga no passado: aquele em que os itens disponíveis são levados diretamente às residências de potenciais clientes, perfil que gerou às adeptas da estratégia o tradicional apelido de “sacoleiras”.Como no caso de Júlia Leite, por enquanto a proposta de Paula é atender ao mercado sergipano, no máximo incluindo regiões circunvizinhas, uma característica do comércio exclusivamente por intermédio de redes sociais, cuja escala se mostra limitada ao chegar na operação das entregas. “Não têm sido viáveis os valores de envio para outros estados, porém estou procurando maneiras de baratear esses custos de envio e assim expandir as vendas para todo Brasil”, antecipou Paula Safadi ao F5News.





