“Não é apenas um joguinho de fada”: os E-Sports em Sergipe
Falta de investimento é uma dificuldade; no ambiente acadêmico UFS se destaca Esporte | Por Emerson Esteves 22/10/2022 07h00 |Diversas telas iluminam o espaço.Teclados ganham cores e formatos diferentes. Mouses dançam de um lado para o outro conforme o jogador tenta fazer um movimento desejado. Não se pode esquecer dos headphones que, ora pendurados no pescoço, ora cobrindo as orelhas, se tornam um equipamento quase essencial neste ambiente: o universo dos E-Sports.
“Tive contato com jogos eletrônicos desde muito pequeno. Comecei a jogar no Playstation 1 e a partir dali nunca deixei de lado essa paixão. Meu primeiro contato com e-sports foi através do jogo Halo, em 2016, no qual cheguei a jogar um campeonato sulamericano com amigos que faziam parte da página Halo Project Brasil”. Este é o relato de Igor Carvalho, ou simplesmente Guigo, de 24 anos.
Designer e profissional de Tecnologia da Informação (TI), Igor trabalha em um espaço semelhante ao descrito na abertura desta reportagem, a Hitech Arena, localizado na Avenida Jorge Amado, zona sul de Aracaju.
“Vejo a Hitech como o lugar de encontro preferido dessa comunidade. Seja para quem não tem um bom PC e/ou uma boa internet em casa para treinar suas habilidades, seja para ‘zoar’ com os amigos no famoso corujão virando a noite jogando”, afirma ele.
O estabelecimento, além de ser esse espaço que gera um senso de comunidade, também organiza e promove campeonatos “com o intuito de unir ainda mais a comunidade, transmitir outros campeonatos nacionais e internacionais”, complementa Guigo.
Um mercado que só cresce
No Brasil, os jogos eletrônicos deixaram de ser meros coadjuvantes e de um mercado restrito para se tornar um setor que merece atenção. O país é o quinto maior mercado do mundo em número de jogadores em 2022 e um dos mercados de jogos que mais cresce na América Latina, segundo a consultoria Newzoo - uma das principais fontes de análise de mercado e estatísticas do setor.
A receita com os E-Sports já coloca o país na décima colocação no mundo, também de acordo com a Newzoo.
Igor Carvalho aponta que na Hitch Arena, os jogos mais procurados por quem frequenta o ambiente são League Of Legends, CS:GO, Valorant, Fortnite e Dota 2. Ele diz que o Valorant ganhou mais destaque após a conquista do Mundial em 2022, pela equipe brasileira da LOUD, mas que não necessariamente existe uma dependência de êxito competitivo para que o jogo seja procurado.
“A popularização do Valorant veio com a boa performance do Brasil nos campeonatos nacionais e internacionais, mas os outros jogos apresentam popularidade sem estar diretamente proporcional. Afinal, o League Of Legends sempre foi popular e nos mundiais os times não tem performance esperada”, ressaltou.
Para que a comunidade dos E-Sports cresça ainda mais em Sergipe, Guigo acredita que é necessário que existam eventos e competições e até mesmo outros espaços como a Hitech Arena, a fim de gerar mais público e interesse.Segundo ele, devem existir “Campeonatos acessíveis, oficinas, cursos e até mesmo concorrência para a Hitech Arena, assim, aumentando o público, gerando mais interesse'. Explorar os jogos recém lançados para gerar interesse para quem ainda não conhece”, concluiu.
E-Sports universitários
Se não existem - ainda - dados precisos que nos ajudem a verificar como o cenário competitivo dos E-Sports se encontra em Sergipe, é inquestionável que o estado tem conquistado seu espaço nas disputas dos jogos eletrônicos em competições universitárias.
A UFS Warriowls, equipe de E-Sports da Universidade Federal de Sergipe (UFS), na mais recente edição dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), em setembro de 2022, conquistou o melhor desempenho entre todas as equipes.
Foram dois ouros - um no League of Legends (em equipe) e outro no Poker (Bruno Mendes), além de um bronze no Clash Royale (Andrey Gamarra). Em todas competições, a equipe soma 5 ouros, 1 prata e 1 bronze no LoL, 1 ouro, 4 pratas e 2 bronzes no Clash Royale, 1 ouro no poker e 3 pratas no Free Fire.
“Eu acho que a tendência é manter esse nível. A gente sabe que tem potencial, sabe que tem gente aqui muito boa, nós só precisamos ampliar as divulgações do nosso time. Porque a gente sabe que tem muita gente que nem conhece nossos atletas, nem conhece nossas competições”, destaca Pedro Ulisses, de 23 anos, formado no curso de Fármacia na UFS e membro mais antigo da UFS Warriowls.Entre campeonatos presenciais da Liga Universitária de E-Sports com a participação do time da UFS como em São Paulo, em 2018, e a realização do próprio JUBs, que garantem um calendário regular de competições, o UFS Warriowls tem se consolidado como o principal time do estado de E-Sports universitário.
“Quando a gente se torna mais público, quando temos um alcance maior, eu tenho certeza que nesses jogos atingimos muita gente, fica mais fácil encontrar pessoas capacitadas para competir. O desempenho é consequência”, destaca Pedro.
Segundo ele, as competições fora do ambiente universitário, no que tange aos jogos eletrônicos em Sergipe, têm se tornado mais escassas. Fatores como investimento e a queda no número de jogadores, de acordo com o membro do time de LoL da UFS têm prejudicado a consolidação do cenário profissional no estado - como destacado em matéria produzida pelo F5 News em maio de 2019.
“Raramente acontece um campeonato e quando acontece é um campeonato de menor porte. Já participei de vários campeonatos sergipanos, de cidades como Itabaiana, Nossa Senhora do Socorro e Aracaju. Antes já foi bem mais forte o cenário sergipano, hoje em dia ele tá bem morto. A gente não tem tanto evento mais hoje em dia, é um ou outro esporadicamente, uma vez um ano, duas vezes no ano e quando tem a gente busca participar. Apesar de não ser o nosso foco principal”, afirmou ele.
“Gostaria que fosse revivido, mas acho muito difícil porque falta investimento. E o cenário morreu assim tanto de player quanto de investimento e como parou de ter investimento por consequência os players também desanimaram. A gente sempre foca mais no cenário universitário, mas quando aparece a gente disputa na medida do possível”, finalizou o atleta do UFS Warriowls.
A busca pelo respeito: Não é apenas um joguinho de fada
Ainda que o cenário estadual profissional por diversos fatores não acompanhe a propulsão que os E-Sports têm ganhado no restante do Brasil, Pedro Ulisses ressalta que o caminho dos E-sports ao menos no ambiente acadêmico é positivo.
Sobre os JUBs ele afirma, “Todo mundo apoia bastante. Quem tá dentro às vezes não percebe isso, acha que a pessoa vai falar que não é esporte, falar que é besteira, joguinho de fada. Mas, todo mundo olha e admira bastante, curte, torce, apoia. A tendência é sempre crescer, quanto mais derem oportunidades para as pessoas se destacarem, mais benéfico é”.





