Conheça duas mães atípicas de Sergipe que compartilham vivências de força e afeto
Angélica e Ivânia abrem o coração sobre os desafios e aprendizados da maternidade com filhos no espectro autista, revelando amor incondicional e superação diária Cotidiano | Por F5 News 11/05/2025 09h00 |A jornada de uma mãe é marcada por muitos desafios que são superados todos os dias. A novela turca “Força de mulher”, atualmente transmitida na Record, conta a vida de uma mulher que perdeu o marido, mas tem a missão de cuidar dos seus dois filhos. Uma história marcante pela sensibilidade transmitida pela personagem mulher e mãe, Bahar.
Da ficção para a vida real, mães de todo mundo vivenciam diariamente experiências únicas que as tornam verdadeiras heroínas da vida real sem perder a humanidade. Mas você já ouviu falar das mães atípicas? São mulheres que não se encaixam no imaginário popular tradicional da maternidade, como as que têm filhos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O F5 News conversou com duas delas.
A dona de casa Angélica Gomes de Jesus tem quatro filhos, dois deles atualmente moram com ela. O Herlysson, de 8 anos, é um deles. A descoberta do autismo surgiu quando o menino frequentava uma creche. Um momento que marcou a vida de Angélica.
“A professora dele me chamou para conversar sobre o comportamento dele e falar sobre o autismo, que na verdade eu ainda não sabia o que era. Fui pra casa chorei muito”, contou ao portal.
A rotina para a dona de casa é ainda mais desafiadora que a das mães consideradas típicas. “Herlysson depende de mim pra tudo. Vestir, banheiro,comer. O mais difícil mesmo é sair com ele, muita coisa incomoda ele. Barulho, aplausos, grito, choro de criança, balão, fogos, porque a forma dele reagir é horrível. Ele tem crises, começa a morder, a bater, a gritar, a chorar. Conseguir sair com ele é uma conquista. O único lugar que ele vai reclamando mais ainda fica é só a igreja”, relatou Angélica.
Ela o descreve com amor. “Ser mãe não é fácil é cansativo. É ser a última a dormir, a primeira a acordar. A maioria do seu tempo é pra ele. É entender as crises, os choros. É enxergar o mundo com outro olhar, através do filho. É se cobrar. Ter medo de soltar demais ou prender demais. Mas apesar de tudo isso é muito amor, amor suficiente para passar por cima de tudo”, afirma Angélica.
A administradora Ivânia Maria de Morais Souto compartilha das experiências vivenciados por Angélica. Aos 51 anos ela tem três filhos, dois meninos e uma menina. O do meio se chama Gustavo, 21, o qual ela considera alguém que transformou seu olhar para as coisas da vida.
“Antes dele, eu era uma pessoa controladora, perfeccionista, que queria tudo no lugar. Minha vida era previsível, organizada e limpa. Gustavo chegou trazendo caos, mas um caos cheio de sentido. Com ele, aprendi que a vida não deve ser domada”, relatou ao F5.
Ainda durante a infância ela já suspeitava de algo, até que veio o diagnóstico que confirmou o TEA. Nesse processo, ela já vivenciou experiências que mudaram suas expectativas e a transformaram.
“Até os cinco anos, ele praticamente não verbalizava o que sentia ou queria. Depois vieram outros desafios: a adaptação ao ensino fundamental, a socialização, o processo de alfabetização. Mas, acima de tudo, o maior desafio fui eu mesma. Enfrentar meus medos, rever minhas crenças e expectativas foi o mais difícil. Aprendi que o meu 100% não era o mais importante — o que valia mesmo eram os 100% do Gustavo. Ele é sempre feliz, adapta-se com facilidade e não cria grandes expectativas sobre os outros. Com ele, aprendi a fazer o mesmo”, explica a administradora
O F5 News perguntou às duas mães qual foi o momento mais marcante com seus filhos.
Angélica - A primeira convulsão foi horrível, me lembro, uma dor inexplicável. Fui preparar a mamadeira dele (Herlysson) e quando cheguei no sofá ele estava roxo sem respirar e eu peguei ele nos braços e comecei a gritar que todos na rua vieram à minha casa vizinhos correndo. Foi desesperador e depois eu tremia e gritava, mas depois de uns quatro minutos ele voltou a responder. Fomos para o hospital, ele ficou ligado em vários aparelhos e eu passei aquela noite em pé com ele nos braços até ele ter alta no outro dia, mas graças a Deus tudo passou.
Ivânia - O momento mais marcante foi quando ele me chamou de "mãe" pela primeira vez, entre os 11 e 12 anos. Até então, ele só me chamava de Ivânia, e eu aprendi a respeitar isso. Ele sabia que eu era sua mãe, mas sempre se referia a mim pelo nome. Eu aceitei e segui em frente. Até que um dia, do nada, ele disse: “Mainha...”. Eu congelei. Olhei pra ele e chorei. Foi um dos momentos mais profundos da minha vida.
“Ser mãe é estar disposta a ser o que for preciso para apoiar seu filho, da melhor forma possível. É aprender, se adaptar, e amar incondicionalmente — todos os dias, nos melhores e piores. E isso se aplica a todos os meus 3 filhos”, afirma Ivânia.
“Ser mãe é ter paciência, força é chorar é sorrir, é ser artista”, completa Angélica.





