Independência do Brasil: Sergipe teve papel estratégico pouco lembrado
História da emancipação sergipana revela participação crucial do estado na consolidação da independência nacional e desafia mitos sobre o episódio de 7 de setembro de 1822 Cotidiano | Por F5 News 07/09/2025 09h00 |O dia 7 de setembro de 1822 marcou a emblemática, e para alguns historiadores controversa, independência do Brasil. Embora tenha sido um marco da nova fase do país, que se separava do domínio português, o processo histórico envolveu diversas regiões, incluindo Sergipe, que teve papel estratégico na consolidação da independência nacional. Muitas vezes, esse contexto regional é pouco lembrado diante da famosa frase “Independência ou morte”, proclamada por Dom Pedro I às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo.
O F5 News conversou com a historiadora e diretora do arquivo público de Sergipe (Apes), Sayonara Santana. Ela explica que a independência brasileira não foi fruto de um movimento revolucionário popular, mas resultado das pressões exercidas pelas elites locais, que buscavam preservar seus interesses econômicos e garantir a continuidade do sistema escravista.
“O momento decisivo ocorreu quando D. Pedro I foi pressionado pelas Cortes portuguesas, que exigiam seu retorno a Lisboa. Às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, em 7 de setembro de 1822, proclamou a célebre frase: "Independência ou morte!". Esse episódio, contestado pela historiadora Lilia Schwarcz, mas que foi consagrado pela historiografia tradicional, representou apenas o início de uma longa e conflituosa jornada rumo à consolidação da independência, que envolveu resistências regionais em diversas províncias do território brasileiro e que só finalizou na Bahia, em 2 de julho de 1823”, afirma a historiadora ao portal.
O que Sergipe tem a ver com isso?
De acordo com a diretora do Apes, a emancipação de Sergipe ocorre em paralelo com a independência do Brasil. O dia 8 de julho de 1820 é apenas o ponto inicial desse processo.
A então Sergipe del Rey subordinada à Bahia é declarada independente por Dom João VI pelo papel desempenhado pelos sergipanos em favor das tropas da realeza, durante a Revolução Pernambucana de 1817, como é amplamente difundida, mas isso não durou muito tempo.
“Apesar da nomeação de Carlos César Burlamaqui como primeiro governador da nova capitania, sua gestão foi interrompida menos de um mês após sua posse, quando foi deposto por tropas baianas. Com isso, o controle de Sergipe retornou às mãos da Bahia, e o governo foi assumido por Pedro Vieira de Melo, sergipano alinhado aos interesses baianos e favorável ao projeto de recolonização do Brasil”, explica Santana.
Diante desse cenário, após a proclamação de independência, Dom Pedro I enfrentou a oposição de algumas províncias que não aceitavam a separação do Brasil do domínio português. A Bahia foi uma delas.
Sergipe passa a assumir um papel estratégico no processo de independência do Brasil. Dom Pedro I ratifica o ato de seu pai por meio do Decreto de 5 de dezembro de 1822 e o atual estado sergipano torna-se independente de forma definitiva, garantindo estabilidade e apoio logístico para que o Exército Imperial, liderado pelo general Labatut, pudesse avançar rumo à tomada da Bahia, segundo a historiadora.
“Essa Junta passou a organizar destacamentos para a defesa do território e adotou diversas medidas emergenciais visando assegurar a integridade sergipana, diante do temor de uma possível retomada do poder por parte da Bahia, mais especificamente Salvador, que havia aderido à Revolução do Porto”, afirma Santana.
A independência do Brasil se consolidou com a tomada da Bahia em 2 de julho de 1823.
O quadro “Independência ou morte”, de Pedro Américo, é mito ou verdade?
Apesar de representar o símbolo da proclamação da independência, o quadro famoso quadro Independência ou Morte, pintado por Pedro Américo e encomendado por Dom Pedro II em 1888, com o intuito de homenagear seu pai, Dom Pedro I, seguiu uma lógica mais mitológica do que realista, de acordo com a pesquisa feita pela historiadora Lilia Schwarcz.
“Pedro Américo, por exemplo, retratou o terreno do riacho Ipiranga como elevado, quando na verdade é plano. Dom Pedro I aparece montado em um imponente cavalo, contudo, na realidade, estava montado num burro. As vestes do príncipe regente também não condiziam com as condições do seu trajeto, na viagem que fez a São Paulo”, explica Sayonara Santana.
“O quadro de Pedro Américo ajudou a consolidar uma imagem idealizada da independência do Brasil, que até hoje permeia o imaginário nacional como se fosse um retrato fiel dos acontecimentos. No entanto, essa representação precisa ser revisitada e analisada criticamente sob outras perspectivas históricas”, completa a diretora do Apes ao portal F5 News.





