Ex-governador Seixas Dória morre, aos 94 anos

Por Márcio Rocha

João de Seixas Dória, governador de Sergipe entre os anos de 1962 e 1964, faleceu de insuficiência respiratória no final da tarde de hoje (31). O ex-governador tinha 94 anos e vinha sofrendo de problemas de saúde, principalmente cardíacos.

Seixas Dória foi governador de Sergipe no período em que estourou a revolução militar e foi deposto pelo regime. No dia seguinte à eclosão da revolução, foi retirado do Palácio do Governo à força e levado para a prisão, no arquipélago de Fernando de Noronha. Em seu lugar, assumiu o então vice-governador, Sebastião Celso de Carvalho. Dória deixou a prisão após quatro meses de detenção, devido à vitória na justiça com a entrada um habeas corpus.

O Ato institucional nº2 provocou a cassação dos seus direitos políticos em 1966, por um período de dez anos. Durante o prazo, Seixas Dória voltou-se ao trabalho com agropecuária e enveredou pelo caminho da literatura.

Nascido em Propriá, em 23 de fevereiro de 1917, Seixas Dória começou sua vida pública como secretário da Prefeitura de Aracaju, foi deputado estadual por duas vezes, eleito pela União Democrática Nacional (UDN), com sua primeira eleição no ano de 1946. Exerceu o mandato de deputado federal também por duas vezes, sendo sua primeira eleição em 1954 e a segunda em 1958. Defensor da democracia, Seixas Dória ladeou o então candidato Jânio Quadros na disputa pela Presidência da República, em 1960.

Em 1962, João de Seixas Dória foi eleito governador de Sergipe com 67.514 votos, derrotando o candidato do PSD, Leandro Maciel. Enquanto governador de Sergipe, defendia os mesmos ideais do então presidente, João Goulart, tendo participado ativamente do bloco que defendia as mudanças em prol da melhoria da vida do povo brasileiro. Em 13 de março de 1964, Seixas Dória discursou no célebre comício da Central do Brasil, em que os maiores nomes da política progressista estavam ao lado do presidente Goulart.

Enquanto estava com os direitos políticos cassados, publicou o livro que se tornaria uma referência histórica do período dos anos de chumbo, “Eu, réu sem crime”, onde relata sua vivência na prisão em Fernando de Noronha.

Emocionado, o governador Marcelo Déda declarou ao F5 News sua tristeza pela perda do amigo, "um dos maiores políticos da história de Sergipe".

“Estou muito triste com a morte deste grande sergipano. Seixas Dória defendeu as ações democráticas para a construção de um país melhor. Um governador eleito pelo povo que foi deposto pelo regime militar. Seixas Dória, um grande sergipano, um grande brasileiro. Um homem que lutou por Sergipe e pelo Brasil, eterno governador de Sergipe”, disse o governador.

Com os direitos políticos restabelecidos, Seixas Dória ingressou no Movimento Democrático Brasileiro, hoje PMDB, fazendo parte de seu corpo fundador em Sergipe. Voltou ao exercício da vida pública como deputado federal, no ano de 1983, quando suplente de José Carlos Teixeira, herdando o mandato de Jackson Barreto, em 1986, quando este foi eleito prefeito de Aracaju. Na Câmara Federal, integrou as comissões de Constituição e Justiça e Relações Exteriores.

Advogado, jornalista, professor, Seixas Dória passou por todas as esferas da administração pública, sempre com uma marca: transparência. Entre a classe política de Sergipe, o ex-governador é lembrado por todos os grupos como um homem honesto, de bom caráter e de coragem, por ter enfrentado as maiores adversidades da vida pública, principalmente a prisão após ser deposto do governo.