Saiba quem foi Raymundo Souza, o primeiro embaixador negro do Brasil | F5 News - Sergipe Atualizado

Saiba quem foi Raymundo Souza, o primeiro embaixador negro do Brasil
Sergipano, autodidata, jornalista, ele foi vítima do preconceito, antes e já no cargo
Política | Por Laís de Melo 21/05/2021 11h45 |


Você sabia que o primeiro embaixador negro do Brasil era sergipano? Raymundo Souza Dantas nasceu no dia 11 de janeiro de 1923, na cidade de Estância, onde estudou por um tempo. Mas, ao chegar na cidade do Rio de Janeiro, em 1941, ele era semianalfabeto. Autodidata, aprendeu sozinho a escrever e depois chegou a publicar livros e a trabalhar como jornalista por um longo período. Até que em 1961, há exatos 60 anos, ele foi nomeado o primeiro embaixador brasileiro negro, para trabalhar em Gana, país na África.  

A história deste homem foi marcada por muitas dificuldades e preconceito desde que chegou ao Rio de Janeiro e, sobretudo, após a nomeação como embaixador. Por isso é encarada como mais um exemplo de superação e merece assim ser reconhecida. 

O professor do departamento e do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Fábio Koifman, lançou no dia 14 de maio deste ano o livro “Raymundo Souza Dantas: o primeiro embaixador brasileiro negro”, uma biografia do sergipano. Em conversa com o portal F5 News, Koifman contou um pouco sobre a trajetória de vida do embaixador e como a nomeação foi recebida pelos brasileiros, na época. 

Segundo ele, Raymundo chegou ao Rio de Janeiro ainda muito jovem, quando enfrentou os primeiros problemas. Sem saber escrever corretamente, ele dormiu alguns dias nas ruas da então capital do Brasil. Nessa época, chegou a realizar trabalhos diversos para se manter, até que conseguiu um emprego como tipógrafo.

“Mesmo ainda aprendendo a escrever corretamente, ele passou a publicar seus textos em diferentes jornais e revistas. Até a indicação como embaixador, durante o governo Jânio Quadros, Raymundo se dedicou ao jornalismo e dividiu páginas da imprensa com alguns dos mais expressivos escritores e intelectuais de seu tempo”, descreve o professor.

Muito antes de ser embaixador, Raymundo chegou a publicar um livro autobiográfico encomendado pelo Ministério da Educação (MEC), com o título “Um Começo de Vida”, que produziu uma tiragem de 40 mil exemplares para que fosse divulgada em todo o Brasil a sua história de superação, conforme revela o Koifman. 

“Mas, apesar da expressão pública do seu nome, alguns setores da sociedade brasileira receberam muito mal a indicação de Raymundo como embaixador e criticaram intensamente a nomeação. Uma vez no posto, outras dificuldades se apresentaram e, ao fim de sua experiência como diplomata, publicou em 1965 o livro  África Difícil (Missão Condenada: Diário)”, narra Koifman.

E continua. “Raymundo enfrentou muitos preconceitos. O fato de não possuir formação formal, ter nascido pobre, ser nordestino e negro, fez com que a sua vida se constituisse em muitos episódios de dificuldades e superação, uma vez que os espaços que o jornalista ocupou, em especial ao ser nomeado embaixador do Brasil no exterior, eram muito disputados e boa parte das elites que compunham a classe dirigente da época considerava quase como “privativos” ou “exclusivos” aos filhos das famílias “conhecidas”, ou seja, eles mesmos”, analisa o professor. 

Ainda conforme Koifman, Raymundo é uma importante figura pública, por ter sido o primeiro negro a ser nomeado embaixador do Brasil no exterior, o que representou uma quebra de paradigma, mesmo que o país tenha esperado quase 50 anos para que outro afrodescentende chegasse ao posto mais alto da carreira diplomática. 

O país africano Gana havia conquistado a independência poucos anos antes de Raymundo ser nomeado, em 1957. Portanto, de acordo com a explicação do historiador Koifman, ao F5 News, era um país jovem e a representação diplomática brasileira estava sendo começada do zero. 

“Raymundo não era diplomata de carreira, era jornalista e escritor. A importância dele foi ter se tornado o primeiro embaixador brasileiro negro. Ativistas do movimento negro demandaram por igualdade de oportunidades por décadas no Brasil. O país encerrou a escravidão, mas o preconceito e as limitaçoes aos não brancos seguiram por boa parte do século XX, se constituindo em impedimento para que pessoas afrodescendentes pudessem almejar o mesmo progresso pessoal que os demais brasileiros. Embora a Constituição não estabelecesse diferentes direitos aos não brancos, na prática as pessoas negras encontravam barreiras em diversas situações da vida pública”, destaca. 

Esses são os principais motivos que levam à lembrança de Raymundo Souza Dantas como “alguém que superou muitas dificuldades e tornou-se um referencial e um exemplo para milhares de outras pessoas que nascem economicamente desfavorecidas, enfrentam muitas adversidades, mas contornam a partir da força de vontade”, acredita Koifman.  

Edição de texto: Monica Pinto
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