“A vida é triste, mas não precisa ser.” Essa era a estrofe que ecoava no telefone quando a canção foi interrompida pela chamada anunciando a partida de Monica Pinto.
Entendi imediatamente: este é exatamente o recado que ela, se pudesse, enviaria a todos os seus “amados e amadas” antes de sua viagem ao “mundo invisível”, como gostava de descrever a vida após a morte.
O que agora almejo é que, de alguma maneira, ela saiba que assim o fez. A vida e obra de Monica devem ser, para nós, um lembrete diário de que os infortúnios do cotidiano não podem, sob qualquer condição, nos roubar o otimismo e a coragem de acreditar na dignidade humana.
Porque assim ela procurou viver nesta terra. Mesmo quando disposta a travar as maiores batalhas para defender o que lhe era justo — e ela era boa nisso —, jamais lhe faltaram a doçura e o respeito necessários para encerrar qualquer discussão com um convite ao brinde.
Assim como a grafia do seu nome, Monica não tinha circunflexos. Era uma mulher sem rodeios e que, portanto, não gostava de recorrer a atalhos para amar, se doar e, também, demarcar limites.
Em todos os seus ofícios, expressava peculiaridades que traduziam uma personalidade forte e criativa. Como esquecer das mandalas feitas por ela mesma para todos da redação e trazidas cuidadosamente de Curitiba, a fim de “bem energizar” nossos lares? Ou como ignorar as quiches e tortas de combinações gastronômicas tão inventivas quanto sua exímia redação literária? Isso sem falar nas dezenas de sinopses de filmes e séries detalhadamente compartilhadas.
Monica se despediu em um dia frio e chuvoso — daqueles em que ela me enviaria um áudio revelando os planos de ficar editando textos entre as cobertas (o que é completamente indispensável quando se vive no Paraná) — , mas é fato que poucas vezes me deparei com um ser tão solar. Amava o mar, uma cervejinha gelada, a mesa farta de amigos e delícias.
Em nosso último encontro, me contou empolgada dos 10 km de caminhadas na praia da Atalaia Nova, do desejo de correr a "Cidade de Aracaju", das pinturas autorais que agora coloriam os muros de sua casa e prometeu mais uma leva dos vinhos nacionais que, ela sabia, me fariam feliz.
Mesmo quando abatida, sua vivacidade jamais se afugentou e a generosidade foi uma busca incessante — o que me leva à inevitável imposição de encerrar este texto, em que infelizmente não pude contar com sua minuciosa revisão, com a mesma expressão que dela sempre ouvi:
Obrigado, amada!





