O 8 de Julho e a justa homenagem ao Centenário de Maria Thétis Nunes | F5 News - Sergipe Atualizado

Opinião
O 8 de Julho e a justa homenagem ao Centenário de Maria Thétis Nunes
Professor Jorge Carvalho associa emancipação de Sergipe à farta produção de Thétis
Cotidiano | Por Jorge Carvalho do Nascimento 08/07/2023 07h30 |


Neste ano de 2023 estamos celebrando o centenário de nascimento da historiadora sergipana Maria Thétis Nunes. Ela é o principal nome dentre os estudiosos da História de Sergipe. Tenho particular interesse nos seus estudos sobre História da Educação, mas antes quero registrar que no 8 de julho deste ano a comemoração será marcada pela entrega de uma comenda que o governo estadual criou para celebrar o centenário da mestra.

O 8 de julho é mesmo um bom momento para homenagear a primeira dama da Historiografia sergipana. Acertou nisto o Governo do Estado de Sergipe. Maria Thetis Nunes morreu no dia 25 de outubro de 2009, aos 86 anos de idade. Ela trabalhou como professora e pesquisadora ininterruptamente durante 64 anos. Publicou mais de 10 livros, além de artigos e ensaios em revistas científicas. 

Nascida no município de Itabaiana, região do agreste do Estado de Sergipe, concluiu o seu curso de graduação na Bahia aos 22 anos de idade. Na sua estreia como intelectual concorreu à cátedra de Geografia e História do Atheneu Sergipense com a tese Os árabes: sua contribuição à civilização ocidental, na qual discutiu o Islamismo, a literatura árabe, a arte muçulmana, a Filosofia e a ciência árabes, além da influência muçulmana presente no Brasil. 

A partir de então trabalhou dando aulas e dirigindo o Atheneu Sergipense até mudar para o Rio de Janeiro como estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB. Depois do Rio de Janeiro trabalhou na Argentina como Adida Cultural do Brasil, na cidade de Rosário. Ao retornar a Aracaju voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou em 1968. 

A partir das pesquisas de Maria Thétis Nunes ganhamos maior clareza acerca da luta pela emancipação política sergipana que anualmente, no 8 de julho, nós celebramos. Muitos dos estudos sobre a História de Sergipe afirmam que a Revolução Pernambucana de 1817 foi a principal causa para a criação da Capitania de Sergipe D’El Rey, em 8 de Julho de 1820. Após aquela revolta, Dom João VI concedeu autonomia a três novas Capitanias: Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Foi estudando Thetis que compreendi e assumi a tese segundo a qual o processo que separou o território de Sergipe da Capitania da Bahia é mais complexo e se coloca no contexto dos eventos vividos pelo Brasil entre a chegada de Dom João VI, em 1808, e a proclamação da Independência, por Dom Pedro I, em 1822. É necessário considerar o contexto econômico e o quadro político que levaram o rei a tomar esta decisão.

Contudo, vale a pena dizer que a revolta da Confederação do Equador não se alastrou pelo território de Sergipe, distintamente do que aconteceu em outras Capitanias. Não obstante, os proprietários rurais sergipanos entraram em pânico, principalmente porque a situação dos mais pobres era inquietante. 
Naquele momento, Sergipe convivia com a escassez de gêneros alimentícios para os mais humildes, principalmente a farinha de mandioca, em face da seca com a qual conviveram os sergipanos em 1816. A elite permutou com o governo da Bahia o abastecimento dos gêneros de primeira necessidade em troca do compromisso de fornecer homens para combater os revoltosos e, também, montarias para a luta.

Não obstante as agruras que frequentemente se abatiam de modo intenso sobre os pobres, como as consequências da seca de 1816, a elite dos senhores proprietários de terra e dos comerciantes prosperava em Sergipe, um espaço geográfico e político que se fazia cada vez mais rico, de modo célere, desde o final do século XVIII.

Era visível a expansão de vistosos canaviais nos produtivos vales dos rios Sergipe, Cotinguiba, Vaza-Barris, Piauí e Real, onde o massapê do solo era propício ao cultivo da cana de açúcar. Da mesma maneira, o poder dos senhores de terra não conhecia limites, o que transformava o território sergipano em uma região na qual o Estado era um grande ausente e as contendas eram decididas num ambiente de muita violência. Os crimes, recorrentemente, permaneciam impunes.

Esses elementos devem ser considerados quando estudamos o processo sergipano de emancipação política. Ainda há muito a estudar e aprender. Todavia, a obra que nos foi legada por Maria Thétis Nunes e alguns estudos realizados por outros historiadores que também admiro, como a professora Maria da Glória Santana de Almeida, nos ajudam a avançar. 

Por tudo isto, compreendo que o 8 de julho é mesmo um bom momento para refletir e homenagear a historiadora Maria Thétis Nunes.

Jorge Carvalho do Nascimento é jornalista, professor, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Edição de texto: Monica Pinto
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