Tem coisa que a gente só entende quando para de tentar apressar o voo.
A pressa, essa velha conhecida dos tempos modernos, vive sussurrando que dá pra cortar caminho, pular a parte difícil, encurtar o processo. Mas a vida, sábia e paciente, vive lembrando que não é assim que funciona.

Outro dia, lendo sobre as borboletas, fiquei pensando nesse gesto quase cruel da natureza: para nascer, elas precisam romper o casulo sozinhas. Se alguém tentar ajudar, abrir o casulo com os dedos cheios de boa intenção, elas morrem. Simples assim. O esforço de sair dali é o que fortalece as asas, o que dá estrutura ao voo. Sem a luta, não há voo.

Quantas vezes, diante de um casulo, a gente tenta apressar o processo? Quer o novo sem encarar o escuro do entre, o desconforto da espera, o silêncio de quem ainda está se transformando. A gente quer o brilho, mas foge da fase em que tudo parece confuso, lento, pesado.

Mas o casulo é o intervalo necessário entre o que fomos e o que seremos. É ali que a pele se refaz, que o corpo entende o que precisa soltar pra virar outra coisa. É ali que o tempo trabalha em segredo, costurando forças que ainda não sabemos nomear.

E não há mapa, nem atalhos, nem garantias. Só o processo - às vezes dolorido, às vezes sereno - de amadurecer o suficiente pra caber no próprio voo.

Porque a verdade é que ninguém nasce borboleta sem antes suportar o silêncio do casulo. E, no fim, a beleza do voo não está apenas em alcançar o céu, mas em ter tido coragem de atravessar a escuridão sozinha, com a fé tranquila de que o tempo faria o resto.

Então, se hoje você está dentro do seu casulo, respira. Não é prisão, é preparo.
E quando chegar a hora certa, você vai saber: as asas estarão prontas.