Ensino, pesquisa e extensão, esse é o alicerce do Centro de Biotecnologias da Reprodução Animal de Sergipe (CBRepA) que será construído no Campus Rural da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em São Cristóvão. Com um valor total de aproximadamente R$ 1 milhão para a construção, o Centro fornecerá suporte às aulas práticas dos cursos de graduação das Ciências Agrárias e Medicina Veterinária. F5 News conversou com responsáveis pelo projeto, especialistas e produtores para saber mais sobre a importância desse espaço para o desenvolvimento da agropecuária e os reflexos na economia do estado.

O CBRepA já é uma realidade e tem atraído olhares de instituições de outros estados e enchido de expectativas os produtores locais. O projeto nasceu há alguns anos e pôde ser colocado em prática graças aos investimentos vindos de uma emenda parlamentar do deputado federal Laércio Oliveira.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Sergipe (Faese) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Administração Regional de Sergipe (Senar), Ivan Sobral, destaca que o Centro de Biotecnologia é importante não só para Sergipe, mas para todo Nordeste, porque será uma referência e servirá aos produtores de toda Região.

“É uma parceria que foi formada lá atrás entre a Universidade Federal de Sergipe (UFS); o Ministério da Agricultura, através da Superintendência Estadual; o sistema Faese/Senar, levando também o pleito dos produtores rurais, tendo ainda a fundamental importância no processo, do deputado federal Laércio Oliveira, que garantiu os recursos necessários para construção”, explica. 

Segundo Ivan Sobral, Sergipe possui um material genético muito bom e, com a chegada do Centro, esse material será replicado, melhorando cada vez mais o rebanho, tanto leiteiro, quanto de corte.

“Tenho certeza que será fundamental para multiplicar o que temos de melhor no estado e até prestar serviços também para outros estados. Com certeza é um projeto muito importante para o desenvolvimento da pecuária sergipana e o aprimoramento genético para todo Nordeste brasileiro”, disse Sobral.

Entusiasta do assunto, o professor Anselmo Domingos, do Departamento de Medicina Veterinária da UFS, explica que o CBRepA está na fase de elaboração do projeto arquitetônico hidráulico e que em poucos dias passará para a fase de licitação. A expectativa é de que, até o final do próximo ano, o Centro já esteja funcionando e proporcionando uma nova realidade para a agropecuária em Sergipe.

“Acreditamos que o impacto desse centro para o estado vai ser extremamente significativo do ponto de vista do desenvolvimento social e econômico. É um projeto multidisciplinar que visa melhoramento genético, que visa a capacitação de profissionais, de funcionários que estão nas empresas rurais, de forma a melhorar a qualidade do serviço e da mão-de-obra por meio dos cursos de capacitação que serão oferecidos, principalmente de inseminação artificial”, disse ao F5News.

O professor explica ainda que os serviços de multiplicação acelerada de animais por meio do melhoramento genético irão beneficiar produtores, criadores e a sociedade como um todo.

“O CBRepA deve funcionar atendendo ao tripé: ensino, pesquisa e extensão. Da parte de ensino, os alunos terão à disposição ambiente para aulas práticas, da mesma forma para desenvolver pesquisas no âmbito da iniciação científica. Pretendemos implementar um programa de mestrado e residência e, naturalmente, também trazer profissionais de outras instituições", disse o professor ao portal.

E completa: "Do ponto de vista de extensão, vamos poder ofertar cursos regulares na área de inseminação, reprodução in vitro, nesse momento especial focado na parte de bovinos. Também estaremos ofertando serviços de produção de embriões e criopreservação de gametas, embriões sendo produzidos in vitro e congelamento de sêmen e gametas”. 

O professor Anselmo Domingos explica que a descontinuidade de uma parceria deixou Sergipe carente nesse aspecto, o que acabou dificultando a utilização dessas técnicas. “A partir de agora, a gente assume esse papel, procura cumprir nossa missão dentro da instituição. Os próprios produtores que estão dando todo suporte e apoio estão ansiosos para que realmente passe a funcionar, para que eles possam disponibilizar sua genética, seus animais", disse.

Segundo ele, Sergipe é um estado que se destaca bastante em qualidade genética,com rebanhos locais de grande potencial. "Com o serviço do laboratório, eles poderão disponibilizar sua genética, comercializando, gerando emprego e renda de forma geral”, prevê.

A princípio, o Centro irá trabalhar com bovinos, tendo como objetivo o melhoramento para as produções de leite e carne, mas há perspectiva de se estender a outras criações. “Com a evolução desse projeto a gente já também pensa em atender aos criadores de equinos, que também têm grande expectativa, além de caprinos e ovinos”, afirma Domingos. 

Ensino  e Pesquisa

Ainda segundo o professor Anselmo, esse é um projeto pioneiro e que já tem atraído olhares de outras instituições. O CBRepA vai desenvolver tecnologias e viabilizar inovações a Sergipe, ao mesmo tempo em que fará intercâmbio com  pesquisadores de outros estados, para um maior fluxo de informações. Dessa forma, a proposta é capacitar e formar os alunos dos cursos de Ciências Agrárias em geral, mas com ênfase no de Medicina Veterinária, nas áreas de biotecnologia, recuperação e melhoramento. 

“Esses profissionais estarão mais preparados para o mercado, para atender melhor às demandas da sociedade e com isso todos vão ter ganhos. A gente ainda carece muito da Universidade, precisamos de instalações e de laboratórios que permitam a vivência dos alunos, tanto no ensino quanto na pesquisa, na iniciação científica, mestrado, com o desenvolvimento de programas de residência nessa área", explica o pesquisador.

"É uma área que tem uma demanda muito grande. A gente acredita que, com a consolidação desse projeto, a gente vai ter um avanço bastante significativo”, diz.

Sergipe é o sexto Estado em produtividade de leite no Brasil

Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme a base de dados do ano de 2019, o estado de Sergipe é o sexto no país em produção anual de leite por vaca, ficando atrás apenas de estados grandes produtores de leite, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Alagoas. Segundo o IBGE, o rebanho bovino de Sergipe em 2019 era de 1.052.263 cabeças.

O superintendente do Ministério da Agricultura em Sergipe, Haroldo Araújo Filho, reforça que o grande objetivo do Centro é facilitar o acesso a técnicas de reprodução e melhoramento genético para os produtores no estado de Sergipe, tanto da pecuária leiteira, como da pecuária de corte. No aspecto econômico, segundo ele, representa animais com maior potencial de produção de leite e animais com maior potencial de ganho de carne de conversão alimentar.

“Com esse Centro, os produtores terão acesso a técnicas de reprodução animal  e melhoramento genético, técnicas que não são tão acessíveis hoje e que provocam a melhoria do rebanho. Paralelamente a isso, por estar na universidade, irá também facilitar a área de pesquisa e a área de ensino”, destacou Haroldo Filho. 

Para o produtor de leite Lafayette Sobral, as expectativas são as melhores para todos no setor, já que Sergipe está carente do serviço e os produtores precisam buscá-lo fora, aumentando o custo da produção.

“Hoje os produtores procuram empresas da Bahia e São Paulo, encarecendo o custo da produção dos animais. Com a chegada desse Centro, vamos ter o melhoramento, independente que seja para produção de carne ou para leite. Além de reduzir o custo, vai fazer com que a pecuária sergipana, que já é referência a nível nacional, cresça ainda mais. Isso engrandecerá ainda mais a pecuária sergipana e os produtores sergipanos”, disse ao F5News.