Grupo de Intérpretes de Libras dá show de acessibilidade e forró no pé no Arraiá do Povo em Aracaju
Intérpretes viralizaram nas primeiras noites dos festejos na Orla, mostrando que o São João é para todos Cotidiano | Por Daniel Soares 08/06/2025 16h17 - Atualizado em 08/06/2025 18h13 |Na terra do forró, a inclusão também entra na dança. O grupo de intérpretes de Libras que atua no Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia, em Aracaju, tem encantado o público e viralizado nas redes sociais desde os primeiros dias dos festejos juninos. Com muita expressão corporal, ritmo e emoção, eles mostram que o São João é, de fato, para todos — inclusive para quem ouve com os olhos.
Todas as noites, dois grupos se revezam na festa: um realiza a interpretação no palco principal, ao lado dos artistas, e o outro atua no Camarote da Acessibilidade, garantindo que o público surdo compreenda e participe das apresentações musicais em tempo real. Cada grupo é composto por seis intérpretes ouvintes, trabalhando quatro por noite – sempre com um consultor surdo junto.
O Portal F5 News conversou com os intérpretes que estão levando a Libras para o coração do forró sergipano. Entre eles está Rubivânia Andrade, que nasceu surda e hoje atua como intérprete profissional. Para ela, estar no palco de um dos maiores festejos populares do estado representa uma conquista pessoal e coletiva.
"Sempre foi um sonho trabalhar com essa área da arte. Eu fico feliz. Mas eu fico lembrando das angústias que passei até esse momento. Me perguntava cadê o intérprete? Até chegar esse momento, em 2025, da gente poder ver as entrevistas, o surdo no palco, a clareza. Muito feliz de ver tudo o que está acontecendo", afirmou Rubivânia.
Vários vídeos do grupo viralizaram nas redes e o intérprete Adriano Ruan estava em um dos que mais repercutiu. Atuando nesta área há 12 anos - sendo cinco deles na interpretação artística, ele diz que essa repercussão é mais do que uma celebração do trabalho deles é uma vitória da comunidade surda.
"Nosso objetivo é, realmente, trazer a acessibilidade, fazer com que a comunidade surda esteja presente. Mas se o nosso vídeo também está sendo divulgado, isso significa que a Libras também está sendo divulgada, a comunidade surda sendo valorizada e isso que é o nosso objetivo, na verdade", comenta Adriano.Ele também fez questão de destacar que o uso da dança e da expressão corporal nas interpretações não é um “exagero” ou uma “performance”, como alguns comentários nas redes sugeriram. Trata-se de uma parte essencial da linguagem visual.
"O surdo está vendo o cantor, todo mundo dançando, ele quer ver algo semelhante também, algo à altura. Então, a expressão corporal, a dança, a coreografia, a libras, tudo isso faz parte de uma comunicação clara para o surdo se sentir realmente presente nesse local", completa o intérprete.
A intérprete Micaela Barreto, com 10 anos de experiência, explica que a área artística na Libras é relativamente nova. E nesse contexto, a pandemia acabou contribuindo para o seu desenvolvimento com as lives musicais que foram realizadas naquele período. Para ela, ver o desenvolvimento deste tipo de interpretação é motivo de muito orgulho.
"O deficiente não está ouvindo o que o cantor está cantando ali, mas está vendo a música que interpretamos. É um trabalho emocionante. Porque, realmente, são os olhos que ouvem. E lá, a gente consegue ver a pessoa ouvindo com os olhos dela, e tendo o mesmo direito que todo mundo tem", finaliza.
Com cada gesto, cada sorriso e cada passo de forró no pé, os intérpretes do Arraiá do Povo mostram que acessibilidade também é cultura, arte e pertencimento. E que no São João sergipano, ninguém fica de fora da festa.





