Doação de órgãos: informação e diálogo salvam vidas e encurtam a fila de transplante
Campanha traz números positivos e desmistifica doação de órgãos no estado Blogs e Colunas | Saúde em Dia 08/09/2025 11h50O mês de setembro marca a campanha nacional de conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos. Em Sergipe, os números demonstram avanço: em 2024 foram registrados 57 doadores e, somente até 5 de setembro de 2025, já são 37 doadores efetivos.
Segundo o coordenador da Central de Transplantes de Sergipe, Benito Oliveira Fernandez, o engajamento da sociedade é fundamental. A legislação brasileira (Lei 9.434/97 e Decreto 9.174/2017) determina que cônjuge ou parentes até o segundo grau são responsáveis pela autorização da doação. “Mesmo que a pessoa não tenha formalizado seu desejo em vida, a família pode autorizar. Quando o potencial doador conversa antes sobre sua vontade, a decisão da família se torna muito mais rápida e tranquila”, explica.
Quebrando mitos
Benito destaca que um dos maiores desafios é desconstruir paradigmas que afastam potenciais doadores.
“A lei proíbe qualquer deformidade no corpo após a doação. Nenhuma religião no Brasil veta a doação de órgãos. Também é mito acreditar que há comércio de órgãos ou que os transplantes são destinados a pessoas ricas. No país, 92% dos transplantes são realizados pelo SUS”, esclarece.
Como funciona o processo
A jornada de doação e transplante começa com a identificação do potencial doador, geralmente um paciente com diagnóstico de morte encefálica. Após a confirmação, a equipe oferece à família a oportunidade de transformar a dor em um gesto de solidariedade.
Se houver autorização, uma série de exames avalia quais órgãos podem ser transplantados. O doador é registrado no Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que realiza a distribuição conforme critérios de compatibilidade, como grupo sanguíneo, medidas antropométricas e o HLA (antígeno leucocitário humano).
“A Central comunica às equipes transplantadoras, que aceitam ou recusam conforme a condição clínica do receptor. A extração é feita com técnica cirúrgica, e o corpo do doador não fica deformado”, reforça Benito.
Doação em vida e após a morte
O médico intensivista e clínico geral Dr. Gustavo Guedes de Carvalho explica que a doação em vida só é possível para órgãos duplos ou parcialmente removíveis, como um rim ou parte do fígado, desde que não traga risco significativo ao doador.
Já a doação após a morte encefálica pode salvar até oito vidas. “O diagnóstico é rigoroso, seguindo critérios do Conselho Federal de Medicina. São realizados exames clínicos neurológicos, testes de ausência de reflexos, um exame complementar confirmando a falta de atividade cerebral e a checagem da respiração espontânea. Apenas após todas as etapas, a morte encefálica é declarada”, explica.
Critérios de viabilidade
Antes da captação, o potencial doador passa por avaliação rigorosa, que inclui exames laboratoriais e de imagem para verificar a função de cada órgão, além da exclusão de doenças transmissíveis graves.
“Idade, estabilidade clínica e comorbidades também são avaliadas. Cada órgão e tecido tem critérios específicos de viabilidade”, completa o médico.
Transplantes em Sergipe
O estado já realiza transplantes de:
• Rim – Hospital Universitário de Aracaju (doador vivo) e Hospital Cirurgia (doador vivo e falecido)
• Fígado – Hospital Cirurgia
• Medula óssea autólogo – Hospital São Lucas
• Córnea – Hospital de Olhos de Sergipe, Hospital de Olhos Rollemberg Góis, Hospital Universitário de Aracaju, Núcleo de Laser e Cirurgia Ocular, Instituto de Olhos Cristiano Mendonça e Oftalmoclínica
Conversar com a família e expressar o desejo de doar é um passo essencial para salvar vidas. Como lembra Benito Fernandez, “a autorização familiar transforma um momento de dor em solidariedade e esperança para muitos pacientes que aguardam na fila”.







André Carvalho é jornalista há mais de 20 anos. Formado pela Universidade Tiradentes (Unit), possui especialização em Marketing pela Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese). Foi apresentador de programa de rádio e televisão, e atuou como assessor de comunicação de vários órgãos públicos e secretarias municipais e estaduais. Atualmente, é editor do Caderno Saúde em Dia.
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