Sevilha é a capital não-oficial daquela Espanha que vive na imaginação de muitos viajantes. A Espanha do flamenco, das touradas, das tapas, das tardes quentes de primavera. É a Espanha solar.

Terra do barbeiro Fígaro, do conquistador Don Juan e da cigana Carmen, Sevilha carrega uma alma forjada na mistura de culturas. O passado mouro, cristão e cigano se entrelaça em cada rua estreita, em cada dança apaixonada, em cada prato cheio de sabor. Os gitanos, ciganos vindos da Índia há séculos, ajudaram a moldar o espírito andaluz — intenso, musical e dramático.

E se há um momento em que essa alma pulsa ainda mais forte, é durante a Feria de Abril, uma das festas mais tradicionais e esperadas da cidade. Foi nesse clima de celebração que embarquei para Sevilha com o desejo de viver — e compartilhar — essa experiência singular. Confira o vídeo completo sobre essa experiência:

COM O TRAJE CERTO
Como manda a tradição, o primeiro passo foi escolher o vestido flamenco. Entrei em uma loja típica da cidade e me vi cercada por dezenas de modelos: saias volumosas, estampas de bolinhas, babados e cores vibrantes que pareciam disputar minha atenção. Experimentei vários — do clássico vermelho ao romântico rosa — mas foi um vestido roxo que conquistou meu coração. Completei o visual com um xale amarelo e uma flor no cabelo. Pronta para dançar!

O Look é composto de vestido, xale e flor no cabelo

Sevilha se transforma completamente durante a feria. O Parque de los Remédios vira uma cidade cenográfica com ruas batizadas com nomes de toureiros e centenas de casetas — tendas decoradas onde famílias se reúnem para comer, beber e dançar. A maioria das casetas é privada, acessível apenas para convidados. Como entrar, então?

A resposta veio graças a um senhor simpático que me explicou o funcionamento da festa. E, mais tarde, com a ajuda de duas paraguaias que moram em Sevilha há anos, consegui explorar o interior de algumas casetas abertas ao público, como as das prefeituras. Lá, experimentei o famoso rebujito — uma mistura leve e refrescante de manzanilla (vinho branco seco típico da região) com refrigerante de limão. Ideal para enfrentar o calor e soltar os passos de flamenco.

Conheci duas paraguaias que moram há anos em Servilha e me explicaram os segredos da festa

Em entrevista ao portal, a sevilhana Sofia Loyo, que hoje vive em São Paulo e nunca perde uma feria, explicou um detalhe curioso da festa: o tradicional passeio de charretes enfeitadas. “Historicamente, apenas as famílias ricas iam à feira de charrete. Era — e ainda é — um serviço caro, que funciona como um símbolo de status”, afirmou. Segundo ela, apesar da modernização da cidade, esse lado aristocrático da feria permanece vivo, lado a lado com a cultura popular andaluza.

SEVILHA MONUMENTAL
Entre uma dança e outra, aproveitei os dias de festa para visitar alguns dos monumentos mais impressionantes da cidade. A começar pela Catedral de Sevilha, a maior catedral gótica do mundo. Imponente por fora e majestosa por dentro, ela abriga o túmulo de Cristóvão Colombo e guarda relíquias e obras de arte centenárias. Ao lado, ergue-se a Torre da Giralda, antigo minarete muçulmano convertido em campanário cristão, de onde se tem uma das melhores vistas da cidade.

Outro destaque foi o Real Alcázar de Sevilha, um dos palácios em uso mais antigos da Europa. Construído inicialmente pelos mouros, o palácio é um verdadeiro mosaico de estilos: azulejos coloridos, arcos entrelaçados, pátios silenciosos e jardins exuberantes que já serviram de cenário para filmes e séries como Game of Thrones. Um lugar onde a história se transforma em beleza arquitetônica viva.

Para uma apaixonada por dança como eu, um visita ao Mudel da dança flamenca foi imperdível

FLAMENCO
Durante a Feria, algumas atrações ficam lotadas e os ingressos esgotam rapidamente — por isso, comprar com antecedência é essencial. Ainda assim, consegui visitar o Museu da Dança Flamenca, um espaço imersivo que me emocionou profundamente.
O flamenco nasceu na Andaluzia como expressão das dores, alegrias e vivências dos povos que ali se encontravam — ciganos, árabes, judeus e cristãos. A dança, ao lado do canto e da música, foi se aperfeiçoando nos cafés cantantes do século XIX, até se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. No museu, apresentações ao vivo e exposições interativas permitem que o visitante sinta na pele a intensidade dessa arte arrebatadora.

Sevilha me surpreendeu em cada detalhe: da energia contagiante da Feria de Abril aos monumentos grandiosos, passando pela generosidade das pessoas e pela força arrebatadora do flamenco. É uma cidade onde o passado e o presente dançam juntos — e convidam o visitante a fazer o mesmo.

Se você sonha em conhecer a alma da Espanha, venha para Sevilha. Mas não apenas para ver: venha para viver.