Por Fernanda Araujo

Portaria do MPE impede a entrada de pessoas com camiseta e shorts

A repórter Monique Garcez, de um site de notícias de Aracaju (SE), foi impedida de entrar no Ministério Público Estadual para assistir a uma das audiências nesta quarta-feira (22). O motivo foi que estava usando uma camisa sem manga. Assim como ela, outras mulheres também foram abordadas por seguranças do prédio.

“No Ministério Público Estadual de Sergipe existe uma portaria, que não foi encaminhada à imprensa, que proíbe a entrada de pessoas usando camisa sem manga. Na manhã de hoje, 22, mulheres foram vítimas desse absurdo! Um país que discrimina a grande maioria da população que não tem acesso a educação, saúde e a serviços básicos essenciais não pode falar em democracia. Mais uma prova dos coronéis do mundo moderno!”, foi o protesto de outra jornalista divulgado em uma rede social.

“No momento em que eu cheguei, outra jornalista do Jornal da Cidade me disse que não poderíamos entrar porque na portaria havia uma decisão de que não poderia entrar de camiseta e outros tipos de roupa. Mas a roupa que nós estávamos não era nada que denegrisse a imagem do Ministério Público. Essa jornalista que está grávida teve que voltar em casa e pegar um casaco para poder entrar. E eu fiquei na porta juntamente com uma senhora que também estava impedida. A produtora do site ligou para a assessoria e eles a informaram que se eu quisesse nos entregariam um blazer. Mas aconteceu que eu não quis ficar”, conta Monique.

A portaria foi enviada pelo procurador Geral, Orlando Rochadel, no dia 22 de junho, mas a jornalista lembra que até a semana passada as pessoas entravam normalmente.

Procurada pelo F5 News sobre o motivo da tal exclusão, a assessora de comunicação do órgão, Mônica Ribeiro, deu a sua versão dos fatos. “O segurança não a impediu de entrar. Ele foi até ela e avisou da portaria, ela leu e começou a discutir. Eu me ofereci para levar um blazer para ela vestir, mas ela disse que não queria e saiu reclamando”.

Ela continua. “Na verdade houve um problema pessoal aqui com as jornalistas desse site porque um dia em que eu estava de férias coloquei no meu lugar uma pessoa que não era formada, mas escrevia muito bem. Essas meninas se desentenderam com ele e, a partir daí, fizeram uma matéria dizendo que o MPE coloca gente que não é formada. E isso prejudica a mim e me deixa triste ao ver no facebook que iriam boicotar as audiências do MPE”.

Mônica informou ainda que a portaria tem o objetivo de estabelecer regras para coibir certos ‘abusos’ de vestimentas da parte de populares, inclusive mulheres e os próprios funcionários. “Aqui entra todo o tipo de gente. Tinha homens entrando com shorts, mulheres com minisaias e blusas do tipo ‘tomara que caia’. Nos demais órgãos, como Tribunal de Justiça, ninguém entra assim; no Tribunal de Contas também não e em empresas privadas também. Essa regra é tanto para os populares e jornalistas, quanto para os funcionários, que podem optar por blazer ou a própria farda”, explica.

Segundo ela, a portaria exige que qualquer pessoa deve entrar no órgão com blusa de manga, calça ou saias na altura do joelho (em caso de mulheres).

Questionada porque a imprensa não foi avisada antecipadamente, a assessora afirma que não tinha necessidade, visto que já estava na portaria do Ministério Público. A decisão do procurador teria sido em razão de assédio de homens às mulheres, ao ponto de um policial do MPE ter que retirar um cidadão do local.

“Aqui também trabalham homens e as mulheres chamam a atenção. Eu sei que isso causa polêmica, mas às vezes para pôr ordem tem que ser radical”, resume a assessora. A portaria estará mais tarde no novo prédio do MPE que será inaugurado nesta sexta-feira (24).