"Ser negra é resistência": sergipanas expõem dores e força da mulher negra
Em alusão ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, relatos destacam preconceito, representatividade e a luta diária por respeito e igualdade Cotidiano | Por F5 news 27/07/2025 14h00 |Celebrado na última sexta-feira, 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é um marco de reflexão, visibilidade e resistência. A data, que também celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela no Brasil, relembra a importância da luta contra o racismo e o machismo que afetam diariamente milhões de mulheres negras em todo o continente. Em Sergipe, o F5 News conversou com duas mulheres negras que representam essa luta em diferentes áreas: a advogada Leila Grasso e a estudante Bheatriz Soares.
Leila Grasso: “Ser mulher negra é lutar todos os dias”
Leila Consuelo Lelis Caetano Grasso é advogada, especialista em Direito Imobiliário e Processo Civil. Ao longo da sua trajetória profissional, ela afirma enfrentar desafios constantes relacionados ao preconceito racial e à descredibilização de sua competência.
“Durante audiências, já fui questionada se realmente era advogada. Também já me perguntaram se o meu escritório era mesmo meu. São situações que revelam o racismo estrutural enraizado até nos espaços mais formais e supostamente igualitários”, relata.
Leila atua em causas raciais tanto na advocacia quanto em movimentos sociais e associações. Um caso marcante que acompanhou foi o de mulheres negras revistadas injustamente em uma loja de departamento. “A atuação profissional de uma advogada negra também representa acolhimento e empoderamento. Quando um cliente negro vê alguém como ele no comando de uma ação, ele se sente representado, fortalecido”, afirma.
Para ela, é urgente que famílias tratem do tema do racismo com seriedade, e que as autoridades parem de relativizar crimes raciais: “Não cabe mais dizer ‘não tive intenção’. A lei precisa ser aplicada com rigor.”
Em suas palavras, ser mulher negra no Brasil é “luta, resistência, dor e coragem ao mesmo tempo”. E reforça: “O 25 de julho é um momento de refletir e reivindicar. Lutamos pelos nossos direitos e pelo direito de simplesmente existir.”
Bheatriz Soares: “Ser negra é ser força e referência”
Aos 21 anos, Bheatriz Pereira Soares é estudante de Publicidade e Propaganda e carrega em sua jornada os efeitos diários do racismo — sobretudo o velado. “Depois que caiu a ficha de que sou negra, tudo ficou mais difícil. A rejeição, os olhares, o desprezo... tudo isso eu sinto na pele todos os dias.”
Apesar dos desafios, ela afirma que aprendeu a lidar com o preconceito com força e resiliência, embora reconheça que é um processo contínuo. “A cada dia me torno mais inabalável, mesmo sem saber ao certo como reagir diante de tantas injustiças.”
Para Bheatriz, a sociedade ideal seria aquela onde todas as mulheres fossem tratadas de forma igual, sem que a cor da pele definisse o nível de dificuldade que cada uma enfrentará na vida. “Ser negra é amar quem sou e de onde vim. É também carregar força e ser referência para outras meninas.”





