Sergipe está entre os 12 estados brasileiros onde o número de beneficiários do programa Bolsa Família supera o de trabalhadores com carteira assinada. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados no último dia 28 de maio, e apontam que, atualmente, 378.895 famílias sergipanas recebem o benefício social, enquanto 344.409 pessoas possuem emprego formal no estado.

A proporção indica que há, em média, 1,1 família beneficiada pelo Bolsa Família para cada trabalhador com registro na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Esse cenário ocorre somente em estados da região Norte e Nordeste do Brasil. Além de Sergipe, o número de beneficiários é maior no Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia.

Apesar disso, os números vêm mostrando uma tendência de reversão. Em 2022, eram 13 os estados com mais beneficiários do Bolsa Família que empregos formais, mas o número de postos de trabalho com carteira assinada tem crescido. Segundo o economista Márcio Rocha, políticas públicas de incentivo à qualificação profissional e à geração de empregos têm impactado positivamente esse cenário.

"As políticas de incentivo à geração de empregos e qualificação profissional estão revertendo gradativamente esse quadro. Devemos considerar que, em algumas famílias, há mais de um benefício ativo, sejam eles federais ou estaduais", afirma Rocha. 

O economista também destaca que Sergipe vem demonstrando evolução no mercado formal de trabalho. "Haja vista que Sergipe tinha dificuldades de ultrapassar o estoque de 300 mil empregos até o ano de 2021, com essa realidade mudando de 22 em diante. Hoje são cerca de 344 mil postos de trabalho celetistas no estado e isso também inverte a situação dos programas sociais, pois habitualmente a pessoa que consegue um emprego, naturalmente sai do benefício", analisa.

No entanto, Rocha faz um alerta para um comportamento que tem afetado o crescimento da formalização no emprego: a recusa de trabalhadores em abrir mão do benefício para serem contratados formalmente. Ele explica que muitos beneficiários, principalmente em áreas urbanas, recusam o registro formal por temerem perder o auxílio. 

"O setor de serviços de alimentação é o mais afetado na área urbana e o próprio agronegócio é o maior afetado na área rural, pois as pessoas continuam querendo trabalhar sem registro. Existem situações em que os benefícios somados ultrapassam o valor de 2 salários-mínimos, o que é um valor considerável para o sustento e consumo das famílias mais pobres e assim, eles recusam a ser empregados", assegura.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) apontam que Sergipe tem cerca de 1 milhão de pessoas ocupadas, o que representa aproximadamente 51% da população economicamente ativa. No entanto, apenas 344 mil possuem carteira assinada. Os demais estão atuando como autônomos, trabalhadores informais ou em atividades sem vínculo formal, o que pode ser tanto uma decisão dos próprios trabalhadores quanto uma prática irregular por parte de empregadores. 

Porém, Márcio rocha destaca que a formalização é essencial para a melhoria de condição financeira da população. "O emprego regular é o melhor caminho para o progresso, desenvolvimento pessoal e profissional e elevação da renda", conclui o economista.