Se você não está mais no mesmo lugar em que começou, então não está apenas tentando, está, de algum modo, conseguindo.

Demorei para entender isso. Sempre achei que “conseguir” era o ponto final da jornada, o momento em que o esforço se transforma em resultado, o dia em que o que parecia difícil demais finalmente se encaixa. Mas hoje vejo que o verbo “conseguir” começa muito antes, no instante em que a gente decide continuar mesmo cansada, mesmo sem garantias, mesmo duvidando se dessa vez vai dar certo.

Perdi as contas de quantas vezes tentei o que acabei de conseguir. Literalmente perdi as contas. Foram tantas que já não sei mais se posso chamar de tentativas ou de ciclos. Alguns começaram cheios de esperança, outros foram silenciosos, quase tímidos, disfarçados de “vou ver no que dá”. Mas em todos eles havia uma mistura de medo e coragem, convivendo como vizinhos que não se suportam, mas dividem o mesmo quintal.

Cada tentativa me tirava um pouco do lugar em que eu estava. Na maioria das vezes, sem que eu percebesse. Como quem cava um túnel escuro, e só lá na frente, quando a luz aparece, entende o quanto já andou. E é curioso, porque a gente tende a achar que não está evoluindo, que nada muda, que o mundo está girando e a vida segue igual. Mas basta olhar com calma: a forma de pensar mudou, as conversas mudaram, as respostas que antes doíam agora soam mais leves. O chão é o mesmo, mas quem pisa nele já não é. Eu não sou.

Conquistar, descobri, é um pouco como aprender a nadar. No começo, a gente se debate, engole água, sente o corpo pesado. Depois, sem perceber, o movimento vai ficando mais natural, e o medo, que antes era tão alto, começa a ser silenciado. Até que um dia, quando a correnteza tenta te puxar, você percebe que agora sabe boiar. E esse instante - esse reconhecimento íntimo de que você sabe se sustentar - é o verdadeiro “conseguir”.

Hoje eu alcancei algo que esperei por muito tempo. Um resultado concreto, visível, que me emociona de verdade. Mas não foi o sucesso de agora que me transformou. Foi o caminho. Foram as vezes em que não deu certo, os dias em que pensei em desistir e, ainda assim, fui. A cada tentativa frustrada, uma parte minha se fortalecia em silêncio. Eu não percebia, mas já estava conseguindo. Devagar, às vezes em exausta de tentar, mas conseguindo.

O mais interessante é que o “chegar lá” não traz a sensação de fim. Pelo contrário: é quase um convite pra começar de novo, só que de outro lugar. Porque o que muda a vida não é o destino, é a forma como a gente aprende a caminhar até ele.

Agora eu celebro. Não só o que conquistei, mas tudo o que precisei me tornar pra conseguir. Celebro as versões de mim que tentaram, fracassaram, se levantaram, acreditaram de novo. Celebro o aprendizado invisível das tentativas que ninguém viu, as madrugadas me preparando, os dias em que parecia que nada estava andando, mas o coração já estava um passo à frente.

O que importa não é quantas vezes a gente tentou, é o quanto se afastou do ponto de partida. E se você não está mais no mesmo lugar em que começou, então não duvide: você não está tentando. Você está conseguindo.