
Banda de Forró formada por internos promove ressocialização nos festejos juninos do Copemcan
O grupo se apresenta nos pavilhões da unidade, levando entretenimento e promovendo a reinserção social por meio da arte Entretenimento | Por Agência Sergipe 27/06/2025 16h25 |No ritmo contagiante do violão, zabumba e triângulo, internos do Complexo Penitenciário Manoel Carvalho Neto (Copemcan) protagonizam uma iniciativa que une música, cultura e ressocialização. Durante as comemorações juninas, o grupo se apresenta nos pavilhões da unidade, levando entretenimento e promovendo a reinserção social por meio da arte.
Composto por três detentos, o grupo realiza apresentações diárias nos cinco pavilhões da unidade prisional, levando música e integração a todos os setores do Copemcan. Com um repertório que inclui clássicos do forró, xote e baião, ritmos tradicionais do Nordeste, as apresentações promovem momentos de descontração e fortalecem o convívio entre internos e servidores.
Segundo a coordenadora de cultura do Copemcan, Jólia Nascimento, a iniciativa é fruto do trabalho contínuo de ressocialização desenvolvido por meio de oficinas culturais dentro da unidade, que promove, desde aulas de violão, à dança e outras atividades artísticas, sempre com o objetivo de possibilitar a reintegração social dos internos. “Esse trabalho de musicalização iniciou antes mesmo do forró. Produzíamos aqui várias apresentações musicais em outros estilos, principalmente MPB. À época, ainda em 2023, contamos com a participação do policial penal Júnior Moziah, músico profissional a nível nacional e que também trabalha no Copemcan. Ele nos ajudou a incentivar a prática da música como instrumento de ressocialização social”, explica.
De acordo com ela, a ideia da banda surgiu em maio do ano passado, quando a equipe identificou um interno que era sanfoneiro profissional. “A partir daí, reunimos outros talentos e formamos o grupo que, hoje, se apresenta voluntariamente com o apoio de servidores, como o policial penal Anderson, que toca zabumba. É um projeto aberto, que valoriza a cultura nordestina e fortalece os laços entre internos e colaboradores”, destaca Jólia.
Apesar do grupo não contar mais com o sanfoneiro, que foi posto em liberdade, a banda segue ativa com três internos que tocam zabumba, triângulo e violão. Um dos integrantes é o detento D.M., que também atua como professor de música na unidade. Ele conta que sua relação com a música começou ainda na juventude e que, antes de ingressar no sistema prisional, trabalhava como cantor em bares e restaurantes de Aracaju. “A música sempre fez parte da minha vida, mas aqui dentro ela ganhou outro sentido. Hoje, além de cantar, ensino meus colegas a tocarem violão, e isso me dá esperança e propósito”, afirma. Prestes a ser posto em liberdade, D.M. já fez uma promessa: continuar, mesmo fora da unidade, colaborando com o projeto de musicalização no Copemcan como forma de retribuir tudo que construiu por meio da arte.
A iniciativa também conta com a participação especial de servidores, a exemplo do policial penal Anderson Almeida que, há quase 23 anos, atua no Copemcan e, hoje, também se apresenta em algumas oportunidades como zabumbeiro. Ele conta que a paixão pelo forró vem da infância, quando participava de festas juninas perto de casa. “Sempre gostei desse clima de São João. Tinha um arraial perto da minha rua e aquilo ficou em mim. Em 2023, conheci um amigo que tocava em banda e comecei a aprender zabumba com ele. Quando vi a movimentação cultural aqui dentro realizado pela coordenação de cultura, resolvi me integrar e ajudar os internos nesse processo”, relembra.
A partir dessa inserção, Anderson passou a organizar ensaios com os reeducandos e, juntos, deram início às primeiras apresentações dentro da unidade em 2024, mantendo as atividades também neste ano. “É gratificante ver a mudança no olhar dos internos quando estão envolvidos com a música. A gente vê que, mesmo aqui dentro, eles voltam a sonhar”, completa.
Para a diretora do Núcleo de Reinserção Social da Secretaria de Estado da Justiça e de Defesa do Consumidor (Sejuc), Edjane Marinho, a iniciativa vai além do lazer. “A música é uma forma poderosa de expressar sentimentos e emoções que muitas vezes ficam guardados. Ela ajuda a construir autoestima, resgatar a cidadania e proporcionar um espaço onde os internos podem se sentir protagonistas de suas histórias. Essas apresentações não são só momentos de alegria, mas pilares fundamentais para a ressocialização e para a diminuição da reincidência criminal”, destaca.
As apresentações seguem acontecendo ao longo de todo o mês de junho, percorrendo todos os pavilhões e alas administrativas do Copemcan. Serão dias de muita música, alegria e integração, com o objetivo de manter viva a tradição dos festejos juninos, mesmo dentro de uma unidade prisional.





