Atos contra a Copa possibilitam politizar o debate, diz sociólogo | F5 News - Sergipe Atualizado

Atos contra a Copa possibilitam politizar o debate, diz sociólogo
Política 08/06/2014 07h31 |


Por Fernanda Araujo

Gerando discussões nas redes sociais, jovens brasileiros  têm se manifestado contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, sentimento que os levou e leva às ruas para protestar. O que se observa é um sentimento entre o desânimo e a revolta por parte de alguns com relação ao Mundial, alimentado pela insatisfação do povo com a falta de melhorias nos setores da saúde e educação, por exemplo, enquanto se gasta ‘rios’ de dinheiro em estádios. Mas o professor de Antropologia Luiz Gustavo Correia (foto), mestre em Sociologia e integrante do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe (UFS) avalia positivamente todo essa movimentação. A seu ver, a visibilidade mundial conferida ao Brasil pela Copa da Fifa fez com que diversos setores da sociedade vissem esse megaevento como oportunidade para manifestar seu descontentamento em relação a problemas históricos, de uma certa forma “naturalizados” pelos brasileiros.

“E isso tem provocado esse estranhamento por parte da maioria. Mas muito do que tem servido de motivo para vários grupos distintos nas manifestações, tanto nas ruas como nas redes sociais, está como pauta de movimentos sociais há um bom tempo. A novidade é o efeito de tais manifestações, pois elas têm conseguido despertar a reflexão na sociedade se de fato somos um só (ou quais os diversos sentidos possíveis de ‘nacionalismo’) como também têm evidenciado diferentes formas de exclusão vividas no nosso cotidiano”, diz Luiz Gustavo.

Para o professor, não se trata de apenas uma fase a ser esquecida ao longo do tempo, mas, ao mesmo tempo, ele não acredita em uma mudança de comportamento simples e nem imediata. Essa é uma leitura que, em sua opinião, tem sido feita de forma errada sobre os manifestos desde junho do ano passado.  “Basta prestar atenção a certos atores sociais que têm participado, como por exemplo, indígenas e vários movimentos sociais, que lutam historicamente por condições de vida mais justas e por maior liberdade na nossa sociedade”.

As recentes manifestações, segundo ele, demonstram a possibilidade de politizar o debate a respeito do que se quer para o país em uma dimensão e uma complexidade até então não vistas, um legado que não se pode ignorar.

“Acredito na liberdade de manifestação, seja por um time, pela sua seleção ou contra tudo que está aí. Não acredito, definitivamente, que ninguém deva dizer aquilo que devemos fazer. O importante para mim é vivermos essas diferenças e que aprendamos a conviver com elas, tendo consciência do que representam e respeitando o direito do outro de ter uma visão de mundo diferente", afirmou.

Para Luiz Gustavo, as vozes que se fazem presentes são múltiplas e heterogêneas, assim como as leituras e interesses pessoais e coletivos demonstrados até agora. Ele faz, porém, uma ressalva: "Claro, vários foram para as ruas porque acreditam que agora ‘o gigante acordou’, sem saber ao certo o que ou porquê estão gritando nas ruas ou compartilhando algo nas redes sociais virtuais. Seja como for, devemos comemorar a possibilidade dessas ideias todas virem à tona e nos abrirmos para ouvir essas diversas vozes”.

O sociólogo não cogita a possibilidade da sociedade brasileira como um todo estar mais crítica. Ele aponta setores que têm demonstrado importantes avanços nos debates, como movimentos feministas, de combate ao racismo e os LGBTTT, no entanto, é notório o incômodo e a repulsa provocados pelo reconhecimento de suas existências.  “O que estamos vivendo atualmente é igualmente um momento histórico, mas não como repetição de outras épocas. O embate entre essas forças não é de agora, nem vai terminar tão cedo", diz, apontando a existência de "pequenas batalhas cotidianas”.

Mas todo esse panorama não impede que a torcida canarinho se faça presente. A estudante Laís Suassuna, por exemplo, afirma que não irá deixar de torcer pelo Brasil, apesar de, em sua avaliação, o país não estar preparado para receber um evento desse porte. “Eu gosto de Copa porque foi um evento que ao longo dos anos desmistificou muita coisa. Além disso, a Copa tem o grande poder de unir os cidadãos de um país. Acredito que o Brasil não está preparado para receber um evento desse tamanho com o atual quadro político que temos e a situação de miséria em que se encontram muitos brasileiros. Mas, se alguma coisa deveria ser feita, deveria ter sido organizado para acontecer antes, e não agora durante ou depois do evento", analisa.

E completa: "Copa é Copa e a Fifa não tem nada a ver com as irresponsabilidades dos dirigentes de assumir um compromisso tão caro enquanto o dinheiro poderia estar sendo investido em educação e saúde. Porém, a Copa já está aqui”.

Foto principal: rede social

Foto 2: arquivo pessoal

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