Embora maioria da população, mulheres ainda lutam por representatividade | F5 News - Sergipe Atualizado

Embora maioria da população, mulheres ainda lutam por representatividade
Política 08/03/2018 12h00 - Atualizado em 08/03/2018 12h04 |


Por Will Rodriguez

Resiliência. Se me pedissem uma palavra para definir a luta das mulheres por representatividade, essa seria, certamente, a mais adequada. Embora já tenha alçado direitos fundamentais, a classe feminina que representa 53% da população ainda encara muitos entraves na ocupação dos espaços de poder, tanto é que o Brasil elegeu sua primeira presidente da República em 2010 e só no ano passado, por exemplo, Aracaju teve uma mulher ocupando o posto de Chefe do Executivo, ainda que por poucos dias. No entanto, essa é uma história que remonta ao século passado e parece estar longe de um desfecho.

Sergipana da cidade de Laranjeiras, a professora Quintina Diniz foi a primeira mulher eleita deputada estadual constituinte pela UDN (União Democrática Nacional) aos 57 anos, em 1934, durante o curto período de organização democrática da chamada República Nova. Eloquente em seus discursos, também de destacou como catedrática das disciplinas de pedagogia e psicologia na antiga Escola Rui Barbosa.

Quando da primeira eleição após o Estado Novo, Aracaju elegeu Maria Carmelita Cardoso Chagas como primeira vereadora municipal. Natural do município de Graccho Cardoso, no sertão sergipano, a professora viveu desde os sete anos de idade na capital sergipana, onde seus pais abriram um colégio.

“O Dr. Leite Neto fez o convite para o meu marido fazer parte da política. Nas vésperas, na Convenção, ele não pôde ser candidato, como estava previsto, por ser delegado. O jeito foi lançar a minha candidatura. Indo de casa em casa, visitando os amigos, que eram muitos. [...] Sofri com a discriminação. Diziam ‘Como é que pode uma mulher ser vereadora? Vá tomar conta de sua casa, mulher!’ Os líderes políticos do bairro, em número de quatro, não deram trégua. Eles me deram muita dor de cabeça, mas eu venci”, recordou a professora Carmelita, em entrevista ao jornalista Osmário Santos, publicada na edição de 27 de agosto de 90 do Jornal da Cidade.

Na última eleição municipal, Aracaju elegeu a primeira mulher para o cargo de vice-prefeita desde a redemocratização do país. Eliane Aquino, viúva do ex-governador Marcelo Déda, lembra a resistência interna quando se viu diante do apelo para a disputa eleitoral.

“Essa minha resistência está sendo quebrada aos poucos. Me vejo dentro da política militando desde os 15 anos em Brasília, tinha orgulho de Marcelo Déda enquanto cidadã, estava dentro da construção da política, mas tinha muita clareza de que não faria parte de nenhum cargo eletivo, não fazia parte dos meus planos. A partir da morte dele, essa pressão (para disputar uma eleição) foi muito grande, ao mesmo tempo em que eu tinha resistência, sabia que não poderia ser covarde com a vida”, observa a vice-prefeita.

Eliane, que em fevereiro de 2017 foi a primeira mulher a assumir o comando da Prefeitura de Aracaju durante uma viagem internacional do prefeito Edvaldo Nogueira, acredita ser da própria mulher a responsabilidade por reivindicar seu espaço na política.

“As mulheres precisam ter consciência de que é preciso ter mulheres legislando. Às vezes a gente faz um discurso contra o machismo, mas continua votando só em homens, nem procura saber quem são as candidatas que estão no pleito. Além disso, não podemos mais nos sujeitar a fazer parte da política apenas para cumprir cotas partidárias”, afirma Aquino.

Longo caminho

Acesso à sala de aula, direito ao voto, emprego fora do lar, pílula anticoncepcional. São alguns dos “importantes avanços” obtidos pelas mulheres ao longo da democracia brasileira, segundo a jornalista e historiadora Claudia Giannotti, que, contudo, pondera ser “preciso reafirmar todos os dias o direito das mulheres”. Para ela, a quebra de paradigmas, passa por “ganhar pessoas para a concepção dos direitos das mulheres” e pela consolidação de políticas públicas. “É preciso que o Estado se preocupe com políticas que cuidem da sociedade como um todo para que as mulheres consigam desenvolver todo seu potencial”, aponta.

Giannotti destaca que as jornadas das mulheres com as atribuições de ordem pessoal, profissional e familiar, por vezes, acabam inibindo a participação delas na política.

“Como uma mulher pode se desenvolver intelectual, profissionalmente, e se tornar uma parlamentar com a carga pesada, o trabalho invisível das mulheres que se responsabilizam por tudo?”, questiona a professora, que teve sua primeira gestação durante o curso de jornalismo e contou com o apoio de uma tia que cuidou da filha dela para que não interrompesse os estudos.

Pesquisadora sobre a memória da história de luta das mulheres, Giannotti ressaltar ser importante lançar olhos sobre as marcas do passado para conscientizar-se de que o enfrentamento ao machismo depende da mudança de valores sociais.

Ela cita a ativista Olympe de Gouges, pioneira do feminismo que escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e foi condenada à morte em plena Revolução Francesa. “Ela brigou tanto que foi guilhotinada”, conta.

Claudia enxerga com “otimismo” o ressoar de uma “geração de mulheres dizendo ‘não é não’, impondo os limites daquilo que aceitam e reivindicando seus direitos, sua liberdade”, embora se preocupe com casos flagrantes de desrespeito à mulher, considerando que “os índices de violência doméstica não diminuíram e a cada dois minutos uma mulher ainda apanha no Brasil”.

“As mulheres mostraram que são indivíduos pensantes, participando de diversos movimentos e lutando pela sobrevivência, pela vida, por pão. Éramos tuteladas primeiramente pelo pai e depois pelo marido. O homem dizia o que a gente podia ou não fazer. Hoje não é mais assim”, comemora Giannotti.

Infográfico e Fotos: Will Rodriguez/F5 News

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