Doença periodontal: como a inflamação na gengiva pode desencadear problemas em todo o corpo
Os fatores predisponentes estão ligados a elementos que favorecem o acúmulo do biofilme Blogs e Colunas | Saúde em Dia 01/12/2025 15h25 - Atualizado em 30/12/2025 15h30A doença periodontal é uma condição inflamatória que atinge os tecidos de suporte e proteção dos dentes. Ela surge como resposta do organismo às agressões causadas pelos metabólitos do biofilme — a popular placa bacteriana — e tem relação direta com o sistema imunológico e com as condições sistêmicas do indivíduo.
Segundo explica o doutor, mestre e especialista em Odontologia, Dr. Thadeu Roriz, compreender o papel do biofilme é fundamental. “O biofilme é o fator determinante da doença periodontal, informação primordial para a compreensão dos demais fatores envolvidos”, afirma.
Ele ressalta que, além desse fator essencial para o início da doença, existem também os fatores predisponentes e os modificadores, que influenciam sua progressão.
Como a doença começa
De acordo com o especialista, os fatores predisponentes estão ligados a elementos que favorecem o acúmulo do biofilme. “O primeiro está relacionado com tudo que predispõe o aparecimento do biofilme, como, por exemplo, o cálculo, restaurações e próteses com margens em excesso ou em falta, bandas ortodônticas, anomalias dentárias e até pérolas de esmalte. Entre eles, o cálculo é o principal fator predisponente que conhecemos hoje”, explica Dr. Thadeu.
Já os fatores modificadores são aqueles que alteram o curso da doença, variando de condições respiratórias, como respiração bucal, até doenças sistêmicas e comportamentos, como diabetes, imunodeficiência por HIV, tabagismo, estresse, deficiências nutricionais, alterações hormonais (puberdade, gestação e menopausa), predisposição genética e uso de determinados medicamentos.
Biofilme: da formação à destruição dos tecidos
O biofilme se forma quando bactérias se aderem à película adquirida sobre os dentes, utilizando glicoproteínas salivares como adesinas. Esse processo envolve interações químicas e físicas que permitem a organização do biofilme primário composto por bactérias Gram-positivas — que, inicialmente, não causam destruição periodontal. Entretanto, elas criam condições favoráveis para a proliferação de bactérias Gram-negativas, essas sim com grande poder proteolítico, transformando o biofilme em periodontopatogênico.
A partir daí, o organismo reage. A doença periodontal libera substâncias pró-inflamatórias que provocam a inflamação gengival e podem alcançar a corrente sanguínea, influenciando negativamente diversos sistemas do corpo.
Inflamação, imunidade e riscos sistêmicos
O especialista destaca que a resposta imunológica pode agir de duas formas prejudiciais ao indivíduo. No primeiro cenário, ocorre uma resposta deficiente: menor quantidade ou funcionamento comprometido das células de defesa. Em pacientes diabéticos, por exemplo, o espessamento da parede dos vasos dificulta a chegada das células ao local afetado, tornando-os imunossuprimidos.
No segundo cenário, o excesso de resposta imunológica aumenta o poder destrutivo sobre os tecidos periodontais, agravando a doença. Fatores genéticos também influenciam esse comportamento exacerbado, como observado em casos de periodontite agressiva familiar e em pessoas com síndrome de Down.
Como explica Dr. Thadeu Roriz, “o fato de o biofilme ser considerado determinante significa que, na ausência dele, não haveria doença gengival ou periodontal. Esse conhecimento ajuda a motivar o paciente, já que sem a presença do biofilme não há início da doença. Os significados dos fatores predisponentes e modificadores ficam mais claros após essa compreensão”.
"A informação sobre a influência da saúde bucal no sistema cardiovascular precisa ser divulgada para toda a sociedade, uma vez que o tratamento preventivo através de cuidados pessoais e frequência rotineira ao Cirurgião-Dentista pode evitar doenças cardiológicos e neurologicas graves"
Conexão com doenças cardiovasculares, AVC e infarto
As doenças periodontais, por serem inflamatórias, aumentam níveis de citocinas pró-inflamatórias, que também são marcadores de risco cardiovascular, como a Proteína C-reativa e a Interleucina-6. Esse quadro favorece alterações nos vasos sanguíneos, permitindo a entrada de lipídios e células inflamatórias, formando placas de ateroma.
Essas placas podem obstruir a circulação local ou se desprender, causando AVC ou infarto. Pesquisas mostram que bactérias de origem bucal podem alcançar a corrente sanguínea e agir à distância.
Além disso, um estudo citado aponta que parte dos cardiologistas ainda desconhece a relação entre saúde bucal e saúde cardiovascular, reforçando a necessidade de diálogo entre especialidades.
Pacientes que já tiveram AVC ou infarto
O cuidado odontológico deve ser redobrado nesses casos. É essencial que o paciente informe ao dentista todo o histórico da doença, pois isso influencia na escolha de medicamentos, anestésicos e no manejo durante os procedimentos.
Dr. Thadeu ressalta que compreender a etiopatogenia da doença periodontal é essencial para entender sua conexão com a saúde geral. “A relação entre a saúde sistêmica e a saúde bucal se torna clara quando compreendemos os fatores determinantes, predisponentes e modificadores envolvidos”, afirma.
A mensagem final é objetiva: cuidar da saúde bucal é cuidar do corpo inteiro. “Os procedimentos preventivos são básicos e acessíveis, evitando consequências graves, locais e sistêmicas, muitas vezes irreversíveis”, reforça o especialista.
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André Carvalho é jornalista há mais de 20 anos. Formado pela Universidade Tiradentes (Unit), possui especialização em Marketing pela Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese). Foi apresentador de programa de rádio e televisão, e atuou como assessor de comunicação de vários órgãos públicos e secretarias municipais e estaduais. Atualmente, é editor do Caderno Saúde em Dia.
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