“As pessoas estão dormindo nas ruas”, diz turca que mora em Sergipe
Sinem Macedo mora há mais de uma década no Brasil e está preocupada com o país natal Brasil e Mundo | Por Ana Luísa Andrade 09/02/2023 08h00 |Desde a madrugada da última segunda-feira (6), o mundo inteiro voltou a atenção para a Turquia e a Síria, que sofrem com a onda de terremotos que assola os países. Foram registrados dois terremotos de grande porte, além de tremores secundários. Juntas, as nações somam mais de 12 mil vidas perdidas até esta quarta-feira (8) e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse número pode chegar a 20 mil nos próximos dias.
O maior tremor registrado apontou a magnitude de 7,8 na escala Richter, sendo o terremoto mais forte registrado na Turquia desde 1939. Os mais devastadores na história da humanidade foram classificados entre 9,2 e 9,5 graus.
Ao longo desses dias, diversas histórias de perdas, resgates, lutas e vitórias vêm causando comoção mundial. Do Brasil, a turca Sinem Macedo, de 39 anos, agradece por sua família estar segura, mas lamenta a situação do seu país natal. Natural da cidade de Ordu, que fica na região do Mar Negro, no Nordeste da Turquia, a bacharel em engenharia se mudou há mais de uma década para Sergipe, onde vive com o marido e as duas filhas do casal, todos brasileiros.
Na Turquia, ficaram seus pais, irmão, outros familiares e amigos. Em entrevista ao F5 News, ela contou que eles vivem em diversas cidades do país, e nenhuma delas foi diretamente afetada pelos terremotos. “Eles estão bem”, disse ao portal.No fuso horário, o país está seis horas à frente do Brasil, o que permitiu que a mãe de Sinem a comunicasse com “antecedência” sobre a situação. “Quando eu acordei, de manhã cedo, vi que minha mãe havia mandado mensagem dizendo que tinha ocorrido um terremoto lá na Turquia, que afetou dez cidades, e que estava bem. A região é longe de onde ela, meu pai e meu irmão moram. Logo depois eu vi pelo jornal que o terremoto era bem grave mesmo”, explicou Sinem.
Entretanto, ela relatou que a sua mãe, que mora na cidade de Antália, na região do Mediterrâneo sul, contou que sentiu leves tremores durante o segundo terremoto, que ocorreu algumas horas após o primeiro e teve como epicentro o sudeste da Turquia. “A gente estava falando no telefone e ela estava assistindo a um jornal e o jornalista disse que estava acontecendo um terremoto. Depois de um minuto, por aí, ela disse que sentiu a casa balançar, mas bem pouco”, detalhou.
Tremores mais sutis também foram sentidos pelo seu pai, que mora em Ordu. Ela afirmou ao F5 News que, inicialmente, ele pensou que estivesse passando mal, até perceber que se tratava de um terremoto.
Familiares de alguns amigos de Sinem, por outro lado, infelizmente não tiveram a mesma sorte. Ela contou que, quando morava na Turquia, trabalhou em Diyarbakir, uma das cidades afetadas pelos tremores. “Eu mandei mensagem para algumas pessoas com quem tenho mais contato. Eles demoraram um pouco, mas depois responderam dizendo que estavam bem. Mas uma pessoa com quem eu trabalhava, o sogro e a sogra dela ficaram nos escombros por mais de um dia”, lamentou.
Além disso, Sinem demonstrou indignação com a demora do governo turco em tomar as medidas necessárias para mitigar a situação. Esse sentimento não é individual. O presidente Recep Tayyip Erdoğan tem sido alvo de críticas devido à baixa eficiência em relação aos desastres que acometem o país, mesmo com diversas nações já tendo oferecido ajuda.
Enquanto isso, a população sofre não apenas com os fenômenos da natureza, mas também com a aparente indiferença do Estado. Sinem relatou que, segundo alguns amigos, as equipes de resgate têm demorado mais de 24 horas para socorrer as vítimas.
“As pessoas estão em escombros e ainda há a questão da temperatura, porque lá está no inverno. Essa região é muito fria. Eles poderiam reagir muito mais rápido. As pessoas dormiram nas ruas, e como a condição de inverno é muito pesada, quem sobreviveu aos terremotos teve a batalha de sobreviver mais uma vez ao frio”, lastimou Sinem.
Ela também acredita que os números reais de mortos e feridos podem ser muito maiores que aqueles divulgados pela imprensa, pois, segundo Sinem, a Turquia vive um momento complicado, com baixa liberdade de imprensa e pouquíssima tolerância a críticas. “O que a gente vê na internet, nas redes sociais, não é quase nada. Infelizmente, na Turquia, vários canais da imprensa sofrem pressão do governo, e aí não mostram a realidade”, disse.
Essa impressão é confirmada por dados da Organização Não Governamental (ONG) brasileira Repórteres Sem Fronteiras, que luta pela liberdade de imprensa. No ranking "A liberdade de imprensa no mundo em 2022", realizado pela organização, a Turquia ocupa o 149º lugar entre todos os 180 países elencados. Confira o ranking completo.
Por esse motivo, Sinem considera a ajuda de outros países fundamental, assim como da população de todo o mundo. Ela indicou ao F5 News uma ONG confiável para onde podem ser destinadas doações às vítimas dos terremotos, a Ahbap, cujo site pode ser acessado por meio deste link: https://ahbap.org/disasters-turkey.
Informações internacionais colhidas a partir de matérias do Metrópoles, parceiro do F5 News.





