Dia da Língua Portuguesa celebra riqueza e diversidade do nosso idioma
Data homenageia Ruy Barbosa e reforça o valor do português como patrimônio cultural, símbolo de identidade e língua viva em constante transformação. Brasil e Mundo 05/11/2025 13h30 |Nesta quarta-feira, 05 de novembro, é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Língua Portuguesa. A data foi instituída em 2006 pela Lei nº 11.310, para valorizar a língua como patrimônio cultural e instrumento de identidade nacional; e como homenagem ao advogado, jurista, jornalista, intelectual, escritor, político e diplomata Ruy Barbosa - que entre outros feitos, foi um grande divulgador do idioma e defensor de uma educação de qualidade e igualitária para todos.
Estima-se que cerca de 260 milhões de pessoas sejam falantes do português no planeta. O idioma é língua oficial de nove países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e, claro, o Brasil, nação com maior número de nativos e falantes.
Para marcar a data, professores analisam a história, as transformações e os desafios do idioma, além de compartilhar dicas práticas para aprimorar o uso da língua no dia a dia.
Que português falamos?
A língua portuguesa tem suas raízes no latim vulgar, idioma falado pelos soldados e colonizadores do Império Romano que ocuparam a Península Ibérica a partir do século III a.C. Com o passar dos séculos, o contato com povos locais e invasões de diferentes origens — como visigodos e árabes — transformou o latim popular em novas formas de expressão, dando origem ao galego-português, falado na região noroeste da península. A partir do século XII, com a formação do Reino de Portugal, o idioma passou a se consolidar de forma independente, evoluindo até se tornar o português que hoje é falado por milhões de pessoas.
Contudo, a língua portuguesa falada no Brasil é diferente do português falado em Portugal e em outros países, pois sintetiza o encontro entre diferentes culturas. “O português brasileiro se formou a partir da base europeia trazida pelos colonizadores, mas foi moldado por influências indígenas e africanas, criando uma sonoridade e uma estrutura únicas”, explica Lino Gonzaga de Oliveira, da Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP.
Segundo o professor, as variações linguísticas e regionais são marcas que enriquecem o idioma e que devem ser valorizadas em sua pluralidade. “As gírias, os sotaques e as expressões populares mostram que a língua está viva e em constante transformação. E o português do futuro será ainda mais plural, refletindo as novas formas de comunicação, especialmente no ambiente digital”, opina.
O português é difícil?
A fama de “língua difícil” acompanha o português há décadas, mas, para a professora Janaína Arruda, da Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo/SP, essa ideia precisa ser revista. Ela explica que a percepção de que um idioma é mais fácil ou mais difícil de aprender depende muito da língua materna de quem o estuda. Isso ocorre porque os idiomas se organizam em famílias linguísticas com estruturas, sons e vocabulários semelhantes.
Por exemplo, o português e o espanhol descendem do latim, pertencendo ao grupo das línguas românicas/neolatinas (que incluem ainda o francês, italiano, romeno e catalão); o que explica por que brasileiros costumam compreender o espanhol com mais facilidade. Já o inglês, de origem germânica (que inclui também o alemão, holandês, africâner, sueco e dinamarquês), apresenta diferenças mais significativas na formação das palavras e na gramática, o que pode causar maior estranhamento inicial para quem fala português.
“Toda língua tem suas complexidades, mas o português não é mais difícil do que o francês, o alemão ou o inglês. Na verdade, nenhum idioma é mais difícil que outro”, afirma Janaína. Essa percepção pode estar associada à distância entre o português formal, considerado norma, e o falado no cotidiano, isto é, sua variante linguística mais comum. “Quando o ensino se volta demais para a norma culta e pouco para o uso da língua, o aprendizado se torna mais desafiador. É importante entender que dominar o português não é decorar regras, mas compreender como ele funciona na prática.”
O que mudou com o novo Acordo Ortográfico?
O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor oficialmente em 2009, e obrigatoriamente em 2016. O principal objetivo das mudanças foi padronizar as normas e reduzir as diferenças de escrita que existiam entre os países que têm o português como língua oficial. Entre as mudanças mais conhecidas estão o fim do trema, a inclusão facultativa do uso do hífen em algumas palavras compostas e a atualização das regras de acentuação.
Mas mesmo com o passar do tempo, as regras ainda geram dúvidas em muitas pessoas, especialmente entre as gerações que foram alfabetizadas antes das mudanças e têm o hábito da escrita consolidado. Isso acontece porque as regras antigas foram internalizadas durante anos de estudo e prática, tornando a adaptação mais difícil.
“As alterações foram pontuais, mas quando alguém aprendeu a grafar certas palavras de uma forma, a mudança exige reaprendizado e atenção constante. Já para os mais jovens, no entanto, que já cresceram em contato com as normas atuais, a tendência é de maior familiaridade e naturalidade, com uma incorporação natural. Uma dica para assimilar o novo acordo ortográfico é praticar a leitura de livros publicados sob a atualização das regras”, explica Juliane Pagamice, docente da Escola Internacional de Alphaville, em Barueri/SP.
Dicas para melhorar o seu português
Apesar de a língua portuguesa estar presente no dia a dia de todos nós, o brasileiro ainda tem baixo desempenho na disciplina. Segundo o estudo “Aprendizagem na Educação Básica: Situação Brasileira no Pós-Pandemia”, feito em 2023 pelo Todos Pela Educação com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), apenas 55,1% dos estudantes no 5º ano do ensino fundamental tem aprendizagem adequada em língua portuguesa. No 9º ano do ensino fundamental, a porcentagem cai para 35,9%; e no ensino médio, só 32,4% dos alunos têm o conhecimento adequado do idioma.
Para Eloá Schuler, professora do colégio Progresso Bilíngue, de Santos/SP, a prática constante é o segredo para aprimorar o domínio do idioma. Entre as recomendações práticas estão ler diariamente, explorando gêneros variados; anotar dúvidas linguísticas para consultá-las depois; evitar abreviações em excesso fora de contextos informais; ouvir e observar diferentes formas de falar, valorizando a diversidade que enriquece o vocabulário; e utilizar ferramentas de revisão como apoio, sem depender exclusivamente delas.
“Ler com frequência, escrever e revisar textos, além de consumir diferentes tipos de conteúdo, de notícias a literatura, são exercícios fundamentais”, recomenda Eloá. A docente também ressalta a importância de equilibrar o uso formal e informal da língua. “Saber adaptar o discurso ao contexto é uma forma de inteligência linguística. É possível ser claro, criativo e coerente tanto em uma redação quanto em uma mensagem de trabalho”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Comunicação
