A luta das mães solo em Sergipe: trabalho, cuidado e resistência | F5 News - Sergipe Atualizado

Maternidade
A luta das mães solo em Sergipe: trabalho, cuidado e resistência
Mais da metade dos lares sergipanos são chefiados por mulheres; conheça algumas delas
Cotidiano | Por F5 News 11/05/2025 06h30 |


No Brasil, mais de 11 milhões de mulheres enfrentam sozinhas os desafios da maternidade, segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE. Elas estão à frente de 14,9% dos domicílios do país, revelando um cenário marcado por desigualdades sociais, econômicas e de gênero.

Em Sergipe, essa realidade se mostra ainda mais acentuada. O Estado divide com o Amapá o primeiro lugar no ranking nacional de lares chefiados por mulheres sem cônjuge e com filhos: 33,5% dos domicílios estão nessa condição. Além disso, 53,1% das residências sergipanas têm mulheres como principais responsáveis, índice que supera a média brasileira.

De acordo com a Secretaria de Estado da Assistência Social, Sergipe contabiliza 188.833 mães solo — mulheres cadastradas como responsáveis familiares, com filhos e sem cônjuge, no Cadastro Único (CadÚnico), com dados atualizados até março de 2025. O levantamento não aplicou recortes por faixa etária dos filhos nem por renda familiar.

Ruptura

Carla Lima, 45 anos, viveu 12 anos em um relacionamento que classifica como abusivo. Durante todo esse tempo, o companheiro foi ausente tanto como pai quanto como marido. O casal morava na casa da avó de Carla, que inicialmente também se opôs à separação.

“Ele nunca cumpriu com as responsabilidades. Chegou um momento em que eu não queria mais aquela vida, pois sempre fui eu por tudo”, relata.

Após a separação, Carla precisou enfrentar sozinha os cuidados com os filhos, o desemprego e a falta de apoio familiar. A avó, que a princípio a rejeitou, mais tarde passou a ajudá-la, inclusive, oferecendo moradia e cuidando das crianças para que pudesse trabalhar.

Sem experiência profissional, ela começou como diarista. Voltou a estudar, fez cursos e chegou a ter dois empregos para sustentar os filhos.

“Acordava às 4h da manhã para deixar tudo pronto. Depois consegui um trabalho das 14h às 23h. Assim, passava as manhãs com eles. Me sentia culpada por não poder oferecer mais, mas segui em frente", afirmou Carla.

Exaustão

A rotina pesada e o sentimento de culpa marcaram os primeiros anos após a separação. Além da sobrecarga física, Carla precisou lidar com o julgamento familiar e a violência psicológica de um relacionamento que se tornou abusivo.

“Precisei procurar proteção na Justiça. Nunca tive apoio público. Só ouvia críticas, como se a escolha de me separar justificasse tudo”, assegurou. Hoje, com os filhos adultos e independentes, Carla diz ter vencido e acredita que se tornou referência de força para eles.

Maternidade

Adriana Riquelme também vive a maternidade solo, mas em um contexto diferente. Quando descobriu a gravidez, já sabia que criaria a filha sozinha, fora de um relacionamento. A notícia, no entanto, foi bem acolhida pela família - especialmente pela mãe.

A filha, Malu, nasceu com uma doença rara que exige cuidados constantes, impactando diretamente a vida profissional de Adriana. Sem condições de manter um emprego formal e ao mesmo tempo cuidar da filha, ela decidiu parar de trabalhar.

“O salário não compensava. Teria que pagar alguém para ficar com ela, e ninguém cuidaria como eu. O que sobrava no fim do mês era quase nada diante da complexidade do caso dela", relembra.

Dependência

Atualmente, Adriana está na fila do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência, mas o processo é demorado. Enquanto espera, conta com a ajuda de amigas e busca apoio psicológico.

“Cada novo sintoma antes do diagnóstico me fazia pensar: onde estou errando? Mas a alegria da Malu me dá forças. Quando acho que vou esmorecer, é só olhar pra ela", destacou Adriana. Mesmo sem o pai presente, ela garante que a filha é amada e cresce em um ambiente afetivo.

As duas mulheres compartilham sentimentos comuns entre mães solo: culpa, medo e solidão. Muitas vezes, a sociedade transfere para elas a responsabilidade pelo abandono paterno.

“É um absurdo a culpa pela ausência do pai recair sobre a mulher”, diz Adriana. Carla reforça: “Me sentia culpada pela escolha do pai dos meus filhos. Mas eu segui, porque não podia mais continuar num relacionamento abusivo”.

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