Fala polêmica de músico gera indignação em professora no Memorial de Sergipe
Grupo Renantique é acusado de declarações sobre racismo, pandemia e Paulo Freire; Sintese repudia e Memorial se posiciona Cotidiano | Por Gabriel Ribeiro 27/09/2025 10h50 |Um episódio ocorrido durante a 19ª Primavera dos Museus, no Memorial de Sergipe, localizado na Orla de Atalaia, em Aracaju, gerou forte repercussão nas redes sociais nesta sexta-feira (26). Áudios de uma professora do Colégio Estadual Acrísio Cruz, que acompanhava cerca de 40 estudantes dos 8º e 9º anos, detalham momentos de constrangimento e indignação vividos durante a apresentação do grupo musical Renantique.
Segundo a docente, tudo começou de forma tranquila: “Os meninos se assentaram, foram em torno de 40 alunos, sentaram para assistir uma apresentação, o comportamento excelente dos meninos, e aí começou uma apresentação. Foi tocada uma canção medieval... mas logo em seguida um componente do grupo resolveu falar”.
De acordo com o relato, o diretor artístico Emmanuel Vasconcelos Serra negou a existência do racismo estrutural no Brasil e criticou os professores. “Ainda tem professores que propagam que existe racismo estrutural no Brasil. Um tal de racismo estrutural... Vocês, estudantes, também precisam ler Gilberto Freyre, para não serem falsos, para conhecerem a verdadeira história”, afirmou.
Na sequência, ele ainda exaltou a “importância do branco na formação do Brasil” e ironizou a educação pública. “Tá vendo aí? Isso é resultado dessa tal de educação Paulo Freire”, disse, após questionar os alunos sobre folguedos sergipanos.
A professora relatou que, além das falas sobre racismo e educação, Emmanuel também fez declarações negacionistas sobre a pandemia da Covid-19. “Viajei para a Europa na época da pandemia. Não cumpri confinamento, não usei máscara, não tomei vacina e nunca tive doença nenhuma. Minha saúde sempre foi 100%. Ninguém pode me obrigar a seguir determinações de um governo autoritário”, declarou.
Por fim, segundo a professora, o artista teria ironizado a condição socioeconômica dos estudantes. “Se vocês quiserem tirar foto com os instrumentos, podem vir. Geralmente a gente cobra R$ 15, mas para vocês, como são de escola pública, vai ter que ser de graça”, concluiu.
A situação gerou desconforto entre os alunos e professores, que cobraram respeito e denunciaram a postura do artista. A direção do Memorial de Sergipe pediu desculpas e, embora tenha afirmado não compactuar com as declarações, permitiu que a apresentação seguisse por mais alguns minutos.
Reações
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese) repudiou veementemente o episódio, classificando-o como um “Concerto de Horrores”. Em nota, a entidade destacou que as falas de Emmanuel Vasconcelos foram “negacionistas, etaristas e racistas”, além de configurarem um ataque à democracia e à cidadania.
O Sintese informou que busca providências cabíveis para que situações semelhantes não se repitam e cobrou posicionamentos da Secretaria de Estado da Educação, do Ministério Público de Sergipe e uma retratação pública do músico.
Já o Memorial de Sergipe, mantido pelo Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) e pelo Grupo Tiradentes, afirmou em nota oficial que as falas proferidas pelo integrante do grupo têm caráter pessoal e não refletem a posição da instituição, que reafirmou seu compromisso com a valorização da cultura, do respeito e da memória.
O F5 News tentou contato com o grupo Renantique e o cantor Emmanuel Vasconcelos, mas obteve êxito até a publicação desta notícia. A redação permanece à disposição através do e-mail jornalismo@f5news.com.br.





