Pista de skate Cara de Sapo: cultura, resistência e memórias na Orla de Atalaia
Espaço consegue reunir vários tribos e histórias no principal ponto turístico da capital Esporte | Por F5 News 31/05/2025 12h00 |Sob os famosos arcos da Orla de Atalaia, em Aracaju, pulsa discretamente um dos espaços mais vivos e diversos da cidade: a pista de skate “Cara de Sapo”. Criada em 2004, em homenagem ao skatista sergipano Fabrizio, o “Cara de Sapo”, o local é hoje muito mais do que uma pista — é ponto de encontro, arte, cultura e resistência.
Instalada ao lado da Praça de Eventos, a pista já passou por reformas, como a de 2018, que garantiu mais durabilidade às rampas e bordas. Mesmo assim, ainda é desconhecida por parte da população. Para quem frequenta o espaço, no entanto, ele representa pertencimento.
“O preconceito sempre vai existir, principalmente por parte das pessoas mais velhas, que veem os skatistas como usuários de drogas. Mas isso está mudando. Hoje já tem criança andando aqui, como se fosse um parquinho”, conta Henrique Silva, skatista.
O skate se revela como muito mais do que um esporte: é inclusão e transformação. “Eu venho pra espairecer a cabeça. É melhor do que ficar parado, sabe?”, diz Jefferson Pereira, que conheceu o esporte matando aula e nunca mais parou. Para Ihago “Teteu” Moura, o skate foi decisivo para enfrentar a depressão: “Eu vou andar até não dar mais, porque o skate salva. Me salvou de verdade mesmo.”
A pista também é ocupada por praticantes de BMX, como Clécio Rocha, que se arrisca ali por falta de estrutura adequada em Aracaju. “O cenário do bicicross em Sergipe ainda tem pouca visibilidade, mas vem crescendo. A maioria pratica à noite, depois do trabalho ou da escola”, relata.
A patinação também tem seu espaço. Um dos nomes mais marcantes é o de Vitor Martins da Cruz, o “Russo dos Patins”, que veio do Rio de Janeiro para conhecer as pistas sergipanas. “Catar ferro velho pra comprar meu primeiro patins foi o começo. Hoje lidero o projeto Piabetá Patins In Line, com 1.300 crianças. A patinação é tudo de bom. Eu digo: ainda sou criança, o brinquedo é que cresceu.”
As manifestações artísticas também se destacam. Grafiteiros como Augusto César “Opext” e Yanne “End” dão cor e voz à pista. “O grafite é vida, é resistência. A arte sempre esteve comigo”, diz Opext, que atua há 15 anos na cena cultural. End reforça: “A minha arte é uma luta pela liberdade de ser, fazer e ocupar os espaços, mesmo que incomode.”
As batalhas de rima também ocupam o espaço. Murilo “Henri” Dias e Guilherme “Éden” Silva usam a rima como forma de expressão. “Gosto de brincar com as palavras. É um hobby, um jeito de desgastar a mente”, diz Éden. Já Henri detalha as diferentes estratégias nas disputas: “Tem gente que quer humilhar, tem quem brinque e tem quem fale do que sente. A rima também é sentimento.”
Por fim, próximo à pista, a Vila do Artesanato guarda histórias de superação. É o caso de Elaine “Índia” Oliveira, ex-enfermeira que, após sofrer assédio e entrar em depressão, encontrou na arte um novo caminho. “Eu queria um artesanato do meu jeito. A arte me curou. Hoje transformo materiais naturais em biojoias e em propósito.”
A pista “Cara de Sapo” é mais do que cimento e obstáculos. É um espaço onde esportes urbanos, arte e fé se cruzam — um palco aberto, onde cada manobra, verso ou pincelada carrega histórias de resistência, pertencimento e esperança.





