Observar um céu estrelado nos remete à magnitude do universo, literalmente imensurável, já que em contínua expansão. Em meio a essa beleza, há também muitos mistérios, alguns dos quais a Ciência vai, aos poucos, desvendando. E, também paulatinamente, cresce o interesse dos jovens brasileiros pelos estudos astronômicos, conforme revela ao F5 News o professor doutor Diogo Souto, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Acervo pessoal

Formado em Física e com Mestrado no mesmo campo, ele é doutor em Astronomia pelo Observatório Nacional/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, entidades por intermédio das quais realizou estágio sanduíche no Instituto de Astrofísica de Canárias (IAC), na Espanha, durante o período 2014/2015, e também um pós-doutorado.

A experiência de Diogo Souto na área da Astronomia inclui subcampos de entendimento inalcançável para o cidadão comum, a exemplo de química de estrelas frias e de estrelas anãs-M, exoplanetas, conexões entre química estelar e química exoplanetária e evolução química da galáxia, entre outros.

Atualmente ele é presidente do conselho do Comitê de Inclusão da quinta etapa do Sloan Digital Sky Survey (SDSS), descrito como o mais ambicioso levantamento astronômico em andamento. “Recebi convite para participar dos projetos internacionais SDSS-V, para caracterização química de estrelas, e PLATO [Planetary Transits and Oscillations of stars], para detecção de exoplanetas orbitando estrelas de baixa massa”, contou o cientista paraibano de apenas 38 anos ao F5 News.

Nessa entrevista ao portal, o professor doutor Diogo Souto passeia sobre temas que povoam o imaginário da espécie humana há séculos. Confira.

F5 News - O senhor observa um aumento do interesse dos jovens pelo campo da Astronomia, ou ele permanece para poucos?

Diogo - Sim, tenho observado um aumento significativo no interesse dos jovens pela astronomia. A democratização do acesso à informação através da internet, redes sociais e a popularização da ciência em plataformas de mídia têm desempenhado um papel crucial nesse crescimento. Além disso, a curiosidade natural sobre o universo e as recentes descobertas astronômicas têm inspirado muitos jovens a seguirem carreiras na área.

F5 News - Séries de TV como The Big Bang Theory (A Teoria do Big Bang), onde se imprime humor ao cotidiano de quatro nerds, um deles astrofísico, pode contribuir para ampliar o interesse pela Astronomia?

Diogo - Certamente. Séries como The Big Bang Theory ajudam a popularizar a ciência e tornam temas complexos mais acessíveis e atraentes ao público geral. Algumas vezes os personagens são muito caricatos, mas de forma geral ajuda a despertar o interesse do público.

F5 News - Hoje a mídia noticia uma profusão de fenômenos astronômicos, especialmente lunares - há luas vermelha, azul, rosa... Tem como explicar o que representam de modo simples?

Diogo - Esses nomes são usados para descrever diferentes fenômenos lunares. A "lua vermelha" refere-se a um eclipse lunar, onde a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, fazendo com que a luz solar passe pela atmosfera terrestre e projete um tom avermelhado na Lua. A "lua azul" é o nome dado à segunda lua cheia que ocorre em um único mês do calendário. A "lua rosa" não é realmente rosa, mas é o nome dado à lua cheia de abril, associada às flores que desabrocham na primavera no hemisfério norte. No entanto, esses nomes não tem nenhuma informação ou explicação astronômica. São apenas apelidos para esses fenômenos que citei.

F5 News - Qual a chance de a espécie humana encontrar outro planeta habitável?

Diogo - A descoberta de exoplanetas na zona habitável de suas estrelas sugere que pode haver muitos planetas com condições propícias à vida. No entanto, encontrar um planeta habitável é um grande desafio que envolve muitas variáveis, como a composição atmosférica e a presença de água líquida. Apesar das dificuldades, as tecnologias e métodos de pesquisa estão avançando rapidamente, aumentando nossas chances de fazer essa descoberta no futuro.

F5 News - Num universo de literalmente bilhões de galáxias, o maior problema seria alcançar essa nova potencial moradia?

Diogo - Sim, a distância é um dos maiores desafios. As tecnologias atuais de propulsão espacial limitam nossa capacidade de viajar grandes distâncias em um tempo razoável. Mesmo dentro da nossa galáxia, a Via Láctea, as distâncias entre as estrelas são imensas. Desenvolver novos métodos de viagem interestelar é essencial para tornar a colonização de outros planetas uma possibilidade viável.

F5 News - É exequível que a espécie humana venha a instalar uma base em Marte? Se sim, há um horizonte de tempo viável para isso?

Diogo - Existem algumas empresas interessadas em fazer essa colonização inicial ainda esse século, mas é um desafio.  Os principais desafios são tecnológicos mesmo. É uma viagem muito longa e seria uma viagem só de ida, não tem como voltar. 

F5 News - O senhor acredita em vida além do planeta Terra?

Diogo - Acredito que, dada a vastidão do universo e a diversidade de condições que podem existir em outros planetas, é plausível a existência de vida além da Terra. No entanto, até agora não temos evidências concretas, então a questão permanece aberta e é um dos grandes mistérios - se não o maior - que a Ciência busca resolver.

F5 News - Na possibilidade de haver outras formas de vida, cientificamente há probabilidade de que nos visitem eventualmente, como tantos acreditam?

Diogo - Embora a possibilidade de vida extraterrestre seja considerada seriamente pela comunidade científica, a ideia de que esses seres possam nos visitar enfrenta desafios significativos. As vastas distâncias entre as estrelas tornam qualquer viagem interestelar extremamente difícil com a tecnologia conhecida. Além disso, não temos evidências científicas que suportem a ideia de visitas extraterrestres até o momento. É muito legal no campo da ficção, mas com a tecnologia que temos, isso é impensável.

F5 News – O que o senhor acha da teoria terraplanista?

Diogo - Isso era de fato uma teoria, há 6 mil anos. Há muito tempo já sabemos que a Terra é redonda. Na era da informação, a desinformação parece atrair mais atenção. Quem acredita em teorias conspiratórias como o terraplanismo é, na pratica, alguém querendo atenção. E como esses grupos podem se encontrar facilmente com a rede globalizada, eles formam uma comunidade que pensa igual, o que é muito bom para o psicológico. Isso sempre existiu e existirá.

No telescópio do Observatório Nacional (RJ) / acervo pessoal