Uma pesquisa envolvendo a Universidade de Liverpool descobriu uma tendência de aumento da água derretida na superfície da Antártida Oriental.

Pete Tuckett

Em um novo estudo ambicioso, eles produziram o primeiro conjunto de dados mensais de alta resolução da Antártida sobre água derretida da superfície usando imagens de satélite.

A pesquisa levanta questões sobre o comportamento futuro da camada de gelo porque se prevê que a água derretida da superfície se tornará cada vez mais importante para a perda de massa na Antártida à medida que as temperaturas atmosféricas aumentam.

Aumento da formação de poças de água derretida
A pesquisa, publicada na revista Nature Climate Change , revela um aumento significativo na quantidade de água derretida acumulada na superfície de gelo ao redor da vasta camada de gelo da Antártida Oriental, e maior variabilidade de um ano para o outro. Este estudo abrangente, utilizando computação em nuvem para analisar mais de 133.000 imagens de satélite, destaca a crescente influência do aquecimento atmosférico nas camadas de gelo do continente.

O estudo mostra que a água derretida da superfície cobria uma média de 3.732 km² – mais que o dobro da área da Grande Londres – na Antártida a cada estação de degelo. Embora a área de água derretida variasse significativamente em todo o continente e entre os anos, a pesquisa revelou um resultado preocupante: a superfície da camada de gelo na Antártida Oriental pode estar se tornando mais suscetível à formação de poças de água derretida.

Liderada pela Universidade de York, a pesquisa envolve pesquisadores da Universidade de Liverpool, das universidades de Sheffield, Leeds e do British Antarctic Survey.

A Antártida é importante para todos nós
O Dr. Pete Tuckett, da Universidade de York, explicou que a pesquisa tem um potencial significativo para mudar a maneira como os formuladores de políticas veem o continente antártico e destaca a velocidade da mudança em suas camadas de gelo.

Ele disse: "A Antártida tem sido tradicionalmente considerada fria demais para que ocorram quantidades substanciais de derretimento superficial. Nosso estudo mostra que não só existe água de degelo superficial em grandes partes da margem antártica, como também a quantidade de água de degelo superficial na Antártida Oriental está aumentando".

A camada de gelo da Antártida contém água suficiente para elevar o nível global do mar em cerca de 58 metros, e os pesquisadores estão ansiosos para entender qual impacto o aumento contínuo da temperatura atmosférica global terá no comportamento futuro da camada de gelo.

James Lea, professor de Glaciologia na Universidade de Liverpool e membro do UKRI Future Leaders, é coautor do estudo.

Ele disse : “Este estudo fornece uma visão incrivelmente importante sobre como a água derretida ao redor da Antártida varia. Isso é crucial para compreender a estabilidade da camada de gelo antártica, pois sabemos que o acúmulo de água derretida pode causar o colapso da plataforma de gelo. Quando essas plataformas de gelo flutuantes se desintegram, podem liberar volumes substanciais de gelo no oceano, provenientes do oceano a montante, contribuindo para a elevação global do nível do mar.”

“A análise de dados para este estudo não é tarefa fácil: ao analisar literalmente dezenas de milhares de imagens de satélite, conseguimos mostrar em detalhes onde e por que a cobertura de água derretida está mudando em todo o continente antártico.”

Devido à forma como o campo gravitacional da Terra funciona, a perda de gelo da Antártida tem um efeito desproporcional na mudança do nível do mar no Reino Unido e em todo o hemisfério norte. As informações deste estudo são inestimáveis ​​para identificar as áreas potencialmente em maior risco e compreender quais impactos nossa geração precisa começar a planejar.

A água derretida acumulada é um fator crítico para a estabilidade da camada de gelo. Ela pode levar à ruptura da plataforma de gelo por meio de rachaduras causadas pela água, intensificar o derretimento localizado e influenciar o movimento do gelo em terra ('gelo aterrado'), potencialmente acelerando seu fluxo em direção ao oceano.

O Dr. Tuckett acrescentou: “É fundamental que este novo conjunto de dados seja agora combinado com modelos climáticos, outras observações de satélite e medições em terra para entender melhor as causas subjacentes do aumento da formação de poças de água de degelo na Antártida Oriental e seus potenciais impactos futuros na estabilidade da camada de gelo e nos níveis do mar.

Entender onde e por que a água derretida da superfície está mudando na Antártida é crucial para prever a futura contribuição do continente para os nossos oceanos. É uma história global.

O professor Lea é detentor da prestigiosa bolsa UKRI Future Leaders Fellowship, que visa aprimorar o conhecimento sobre as futuras mudanças globais no nível do mar e compreender os riscos para as futuras rotas de navegação polares.

O artigo ' Mapeamento continental mostra aumento da sensibilidade da Antártida Oriental ao acúmulo de água derretida' foi publicado no periódico Nature Climate Change.

Fonte: Universidade de Liverpool