Trabalhadores fazem ato em favor do jornalista Cristian Góes
Confira texto a gerar processo movido pelo desembargador Edson Ulisses Cotidiano 23/01/2013 11h10 |Por Elisângela Valença
Na manhã de hoje, 23, aconteceu audiência de conciliação entre o desembargador Edson Ulisses e o jornalista Cristian Góes. O desembargador entrou com processos criminal e cível contra o jornalista por conta do texto “Eu, o coronel em mim”, publicado no blog que o jornalista mantém num portal.
Os processos pedem abertura de inquérito policial e pena de prisão, além do pagamento de indenização por dano moral a ser fixada pelo juiz e o pagamento de R$ 25 mil pelas custas do processo. O argumento é de que, no texto, o jornalista faz referências ao desembargador Edson Ulisses e ao governador do Estado, Marcelo Déda, de quem o desembargador é cunhado.
“O texto é ficcional, não faz referência alguma a pessoas, locais, características, nada”, questiona o jornalista Cristian Góes. “Eu estou tranquilo. Conto agora com o bom senso do desembargador e espero que ele repense esta ação”, disse o jornalista.
O desembargador Edson Ulisses chegou para a audiência, mas não quis falar com a imprensa.
Ato
Para sindicatos, movimentos sociais e muitos cidadãos, este processo do desembargador Edson Ulisses movido contra o jornalista Cristian Góes vai muito além de uma reação pessoal. É uma forma de cercear a liberdade de imprensa. Por isso, a Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT-SE) organizou um ato em apoio ao jornalista.
“Isto é um ataque direto à liberdade de expressão, é uma violência à Constituição”, disse Caroline Rejane, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor-SE). “A gente está vivendo uma
judicialização da imprensa, o que remonta a ditadura”, acrescentou.“É uma situação extremamente difícil, chega a ser surrealista que um texto ficcional seja alvo de um processo judicial”, disse a deputada estadual professora Ana Lúcia. “Um profissional de comunicação ser penalizado e constrangido desta forma prova como nossa democracia ainda é incipiente. São os resquícios da ditadura: o autoritarismo, a falta do diálogo, o ‘tudo pode’ no exercício do poder”, acrescentou.
“É esse tipo de atitude e pensamento que não pode existir, especialmente no judiciário. Se houvesse concurso para desembargador e ele fosse submetido a referendo popular seria o maior avanço da Justiça brasileira. A ‘meritocracia’ acaba trazendo distorções como essa”, disse professor Dudu, presidente da CUT-SE.
Texto
Conheça o texto de Cristian Góes que gerou toda essa polêmica, publicado em 25 de maio de 2012.
Eu, o coronel em mim
Mando e desmando. Faço e desfaço
Está cada vez mais difícil manter uma aparência de que sou um homem democrático. Não sou assim, e, no fundo, todos vocês sabem disso. Eu mando e desmando. Faço e desfaço. Tudo de acordo com minha vontade. Não admito ser contrariado no meu querer. Sou inteligente, autoritário e vingativo. E daí?
No entanto, por conta de uma democracia de fachada, sou obrigado a manter também uma fachada do que não sou. Não suporto cheiro de povo, reivindicações e nem com versa de direitos. Por isso, agora, vocês estão sabendo o porquê apareço na mídia, às vezes, com cara meio enfezada: é essa tal obrigação de parecer democrático.
Minha fazenda cresceu demais. Deixou os limites da capital e ganhou o estado. Chegou muita gente e o controle fica mais difícil. Por isso, preciso manter minha autoridade. Sou eu quem tem o dinheiro, apesar de alguns pensarem que o dinheiro é público. Sou eu o patrão maior. Sou eu quem nomeia, quem demite. Sou eu quem contrata bajuladores, capangas, serviçais de todos os níveis e bobos da corte para todos os gostos.
Apesar desse poder divino sou obrigado a me submeter à eleições, um absurdo. Mas é outra fachada. Com tanto poder, com tanto dinheiro, com a mídia em minhas mãos e com meia dúzia de palavras modernas e bem arranjadas sobre democracia, não tem para ninguém. É só esperar o dia e esse povo todo contente e feliz vota em mim. Vota em que eu mando.
Ô povo ignorante! Dia desses fui contrariado porque alguns fizeram greve e invadiram uma parte da cozinha de uma das Casas Grande. Dizem que greve faz parte da democracia e eu teria que aceitar. Aceitar coisa nenhuma. Chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã, e dei um pé na bunda desse povo.
Na polícia, mandei os cabras tirar de circulação pobres, pretos e gente que fala demais em direitos. Só quem tem direito sou eu. Então, é para apertar mais. É na chibata. Pode matar que eu garanto. O povo gosta. Na educação, quanto pior melhor. Para quê povo sabido? Na saúde...se morrer “é porque Deus quis”.
Às vezes sinto que alguns poucos escravos livres até pensam em me contrariar. Uma afronta. Ameaçam, fazem meninice, mas o medo é maior. Logo esquecem a raiva e as chibatadas. No fundo, eles sabem que eu tenho o poder e que faço o quero. Tenho nas mãos a lei, a justiça, a polícia e um bando cada vez maior de puxa-sacos.
O coronel de outros tempos ainda mora em mim e está mais vivo que nunca. Esse ser coronel que sou e que sempre fui é alimentado por esse povo contente e feliz que festeja na senzala a minha necessária existência.


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