Por Elisângela Valença

Ares de cidadezinha do interior disfarçam problemas de cidade grande. Assim é a realidade do conjunto Santa Lúcia, no bairro Jabotiana, em Aracaju (SE). Cerca de vinte mil pessoas moram na localidade e este número cresce constantemente devido ao boom imobiliário na área. Mesmo com esse afluxo de moradores, a área conta apenas com três linhas de ônibus e dois policiais militares, que ficam no Posto de Atendimento Comunitário (PAC).

“Os ônibus demoram muito, mesmo em horário de pico, como início da manhã, meio-dia e fim da tarde. Nos horários intermediários, demoram ainda mais”, disse a professora Rilza Santos Costa, que mora no Santa Lúcia há treze anos. “Nos horários de pico, os ônibus circulam lotados. É um desrespeito ao cidadão”, avalia a apontadora Silvia Fonseca, que trabalha no conjunto.

A equipe de reportagem ficou no conjunto das 8h às 9h20 e viu apenas um ônibus passar na avenida principal. F5 News entrou em contato com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), através da Assessoria de Comunicação (Asscom), e obteve a informação de que as linhas que atendem ao bairro Jabotiana estão prejudicadas por conta das obras do viaduto da avenida Tancredo Neves.

“Aquele é o único acesso ao conjunto e todo o trânsito fica afunilado, por isso o intervalo entre os ônibus das linhas acaba ficando maior”, informou Raquel Passos, assessora de Comunicação da SMTT. “A Diretoria de Transportes Públicos chegou a criar mais duas linhas alimentadoras, mas sabemos que ainda não foi suficiente”, admite ela, antecipando que, quando as obras acabarem, os intervalos serão menores e há perspectivas de aumentar a frota da região.

Na hora de falar sobre segurança, sobraram depoimentos e medo. Muitos moradores se dispuseram a falar, mas sem se identificar. Todos se queixaram da ausência de policiamento ostensivo no conjunto. “A gente ainda conta com o PAC, mas dois policiais só não dão conta. Eles se esforçam, mas é além das possibilidades reais”, disse um morador que teve a casa assaltada há dois anos.

“Eu, graças a Deus, nunca sofri nada, mas todo mundo reclama, especialmente os comerciantes”, disse uma moradora. Recentemente, a casa lotérica do conjunto foi assaltada duas vezes. “Hoje, tenho medo de qualquer pessoa que desça de uma moto e entre aqui de capacete”, afirmou a proprietária.

Como a região está cheia de canteiros de obras, existem muitos pontos ermos ou com pouca iluminação. É o caso da Estrada da Cabrita, que liga o conjunto Santa Lúcia à zona de expansão do bairro Jabotiana. Um dos pontos críticos é o do começo da rua (foto 1), ainda no Santa Lúcia. O muro da construção de um condomínio tem um recuo (foto 2) que, segundo moradores, tem servido de esconderijo de assaltantes e estupradores. “Todo dia tem assalto e toda semana tentam estuprar alguém ali. Já falei com o povo da obra, mas não fizeram nada”, disse um morador.

No canteiro de obras, a engenheira auxiliar, Fernanda Mara, afirmou nunca ter recebido reclamações de moradores. “Devem ter falado com algum vigia, algum encarregado que acabou não passando para os responsáveis pela obra”, disse Fernanda. “Mas isso é algo simples de ser resolvido. Vou passar hoje mesmo para o engenheiro responsável e isso será sanado”, garantiu.

A região do bairro Jabotiana é atendida pela 3ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Comunitária. Segundo o comandante, tentente Flávio Souza, o fato de o PAC Santa Lúcia ter apenas dois policiais é por falta de efetivo na tropa da Polícia Militar de Sergipe. “Infelizmente, não temos homens suficientes para ampliar o efetivo nestes atendimentos”, disse.

Perguntado qual seria o número ideal para atender à região, ele foi prático. “A gente nunca vai conseguir chegar num atendimento perfeito, num número ideal. Então, não penso nisso e procuro trabalhar com o que a gente tem”, disse. “Procuramos ouvir a população e os policiais em serviço. Mapeamos os problemas e montamos operações em cima destas informações, além do serviço ordinário, com ações preventivas”, explicou o tenente.