Ser mãe, pra mim, é como cantar uma música que eu mesma compus. Tem dias em que é bossa nova— voz baixa, embalo no colo, aquele tom doce que só se usa pra dizer “tô aqui”. Outros dias são puro rock’n roll: grito de criança, brinquedos coloridos como refrões intensos, a rotina em ritmo acelerado e eu tentando não perder o tom.

E há aqueles momentos em que tudo vira improviso, como no jazz, onde o segredo está em ouvir, sentir e responder na hora. A maternidade é meu palco mais real, meu estúdio mais íntimo, minha plateia mais exigente e mais amorosa.

Desde que ela nasceu — Helena, minha menina de cinco anos, cheia de brilho e ideias — venho compondo essa canção com partes de mim que nem sabia que existiam. Cada madrugada em claro, cada lancheira montada com frutas cortadas com carinho e bolinhos gostosos, cada “mamãe, canta pra mim?” antes de dormir. Tudo virou verso.

Mas o mais bonito é que nunca parei de cantar outras músicas também.

Eu tenho minha carreira, meu microfone, meu fone de retorno. Tenho tempo pra mim, pra o que me alimenta a alma além do maternar. Me priorizo sem culpa porque entendi que ser uma boa mãe não exige silêncio de tudo o que fui antes. Pelo contrário, minha filha precisa ver que sua mãe se realiza — no palco da vida e em casa, nas notas altas e nas pausas.

Não quero (nem tento) dar conta de tudo. Há dias em que só consigo cantar no modo sussurro. Em outros, desafino. E tudo bem. Descobri que a beleza está em mostrar pra ela que a vida real é feita de melodias imperfeitas, mas cheias de verdade.

Quando o dia acaba e ela me pede uma última canção antes de fechar os olhos, eu percebo que essa música que criei, essa maternidade vivida com entrega e liberdade, é a obra mais linda da minha vida.

Uma canção que nunca termina, só muda de tom com o tempo. Então, eu sigo cantando, com o coração cheio e a alma afinada no amor.