A vida em modo mil abas abertas
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 15/06/2025 20h00Ninguém me avisou que ser adulta era, basicamente, virar operadora de abas abertas. Um monte de janela aberta, rodando ao mesmo tempo, consumindo memória, bateria e paciência. E quando você tenta fechar uma, descobre que ela estava conectada com outras três. É o tipo de sistema que trava, reinicia sozinho e, às vezes, simplesmente dá aquela famosa tela azul da existência: “Erro. Algo deu errado.”
E deu mesmo.
Porque tem conta que venceu, e-mail que chegou antes da hora, reunião que começa daqui a cinco minutos, lanche da escola que ainda preciso preparar, criança com febre, coelho que comeu as plantas todas e, claro, uma notificação muito fofa do meu aplicativo de hábitos saudáveis lembrando que estou há 17 dias sem beber água direito.
O problema não é só a quantidade de abas. É que todas são importantes. Nenhuma dá pra simplesmente fechar e seguir. Tem aba da casa, que nunca zera. Tem aba do trabalho, que nunca dorme. Tem aba da maternidade, que roda em tempo integral, 24 horas por dia, sete dias por semana, incluindo feriados, finais de semana e, principalmente, naqueles dias em que a gente só queria desligar tudo e fazer absolutamente nada. Mas fazer nada, no mundo real, é uma aba que não abre.
E o mais curioso é que ninguém nos prepara pra isso. Crescer parecia ser sobre liberdade. E, de certa forma, é. Liberdade pra escolher se você resolve primeiro o problema do encanamento, o relatório que ficou pendente ou a crise existencial que visita pontualmente às 3 da manhã.
A vida adulta é esse jogo de prioridades urgentes, onde autocuidado vira fazer skincare às 23h45 com uma máscara que promete milagres, enquanto mentaliza que amanhã, sim, vai acordar às cinco da manhã pra fazer yoga. Amanhã. Sempre amanhã.
E no meio desse sistema operando no limite, às vezes, surge aquele aviso clássico: “Seu computador está com pouco espaço de armazenamento.” A diferença é que não é o computador. É a gente. Pouco espaço, pouca energia, pouca paciência. E, ainda assim, seguimos abrindo abas, porque não tem outra opção. A vida não oferece botão de fechar tudo.
A realidade é que, no fundo, a gente vai aprendendo a viver assim. Entendendo que algumas abas vão travar, que algumas coisas vão ficar pra depois, que nem tudo vai ser feito no tempo que a gente gostaria. E tá tudo bem, mesmo que seja também meio revoltante que esse “tá tudo bem” precise ser repetido como mantra pra gente não pirar.
Aí a gente segue. Entre uma aba e outra, um respiro. Pequeno, rápido, mas nosso. E talvez seja só isso mesmo: aprender a sobreviver ao caos com uma dose de humor, um gole de café com leite requentado e aquele pensamento que salva todo adulto funcional: “Se travar muito, desliga e liga de novo”.







Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
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