O tamanho das coisas
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 25/05/2025 20h00A lâmpada do corredor queimou no meio da semana passada. Fui acender e… nada. Nenhuma explosão, nenhum cheiro de fio queimado. Só o escuro.
Passei uns dois dias atravessando aquele pedaço da casa no escuro mesmo. Não era heroísmo nem resistência. Era só porque trocar a lâmpada exigia uma escada que estava no outro cômodo e, sinceramente, eu não estava disposta. Até que numa manhã qualquer, no meio de um café com leite já meio frio e uma notificação de WhatsApp, eu peguei a escada, troquei a lâmpada, e a luz voltou.
Foi só isso. E isso bastou.
E eu pensei: muita coisa na vida é assim. Queima, falha, incomoda, mas não precisa ganhar mais espaço do que merece. Nem tudo é grave. Nem todo incômodo é crise. Tem coisa que só precisa ser notada, resolvida e esquecida. Nem toda frustração precisa ser tragédia.
Eu sempre fui assim. Nunca dramatizei o que podia ser só uma lâmpada. Não porque me esforço para manter a calma, mas porque esse é o meu modo natural de funcionar. Não falo isso como quem se gaba. Falo como quem se observa. Não tenho esse impulso de transformar tudo em tempestade.
E já me questionei por isso.
Teve um dia, inclusive, em que levei isso pra terapia. Falei num tom de quem está admitindo um defeito:
— Às vezes acho que sou fria. Ou que tem algo de errado em não me abalar tanto.
Minha psicóloga escutou, me olhou sorrindo, e me devolveu com uma delicadeza que eu nunca esqueci:
— Você não é fria. Você só dá às coisas o tamanho que elas têm. É um otimismo lúcido.
Desde então, venho olhando pra mim com mais gentileza.
Não é que eu não sinta. Eu sinto. Me frustro, me canso, me irrito. Só não coloco holofote em todo tropeço. Não dou microfone pra cada pequeno aborrecimento. Eu realmente sinto, mas aprendi, ou talvez sempre soube, que sentir não exige escândalo. Algumas pessoas são feitas de susto, outras de pausa. E eu sou do tipo que mede.
Dou às coisas o tamanho que elas têm e isso, pra mim, é um tipo de cuidado.
A vida já pesa por si. Se a gente amplia demais o que é pequeno, ela deixa de caber. A lâmpada queimou. Eu troquei. E a vida seguiu.
Nem tudo é um sinal. Nem tudo é um aviso. Às vezes, é só uma lâmpada. E ter a sabedoria de não transformar isso em tempestade é o que, no fim das contas, mantém a luz acesa dentro da gente.







Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
E-mail: amandaneuman.an@gmail.com
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